Ao Fábio
De: diniz@ufpr.br
Data: Qui, Outubro 19, 2006 5:14 pm
Para: <fábio@yahoo.com.br
CC: diniz@ufpr.br (mais)
Fábio e demais,
Há uns meses eu li na Veja que os responsáveis pelas campanhas eleitorais estavam preparando o que eles chamam de "campanha viral", ou seja, a divulgação por email de mensagens apócrifas com acusações contra os adversários e justificativas falsas em favor do seu candidato. Isso que você recebeu e repassou é exatamente isso: campanha viral petralha.
Ora, esse negócio de dizer que em eleição vale tudo faz sentido (embora só até certo ponto) quando se trata de atividades de militância partidária pura e simples. Mas isto aqui é uma lista de discussão formada por ACADÊMICOS! Um grupo de professores, alunos e pesquisadores de uma Universidade pública!
Numa lista assim, divulgar textos de origem desconhecida é anular qualquer distinção entre retórica partidária e ciência, entre militância e compromisso com a objetividade da análise. Eu não acredito em neutralidade científica ou numa objetividade absoluta da pesquisa social, mas considero possível, necessário e OBRIGATÓRIO que os acadêmicos mantenham um compromisso com a objetividade. Isso significa que toda afirmação deve ser baseada em fontes, evidências, argumentos!
Um dos grandes males trazidos pela Geografia Crítica é justamente essa dissolução das fronteiras entre militância e pesquisa. Por causa dela, os geógrafos petistas não têm idéias próprias: apoiavam o PT nos tempos de oposição ao suposto "neoliberalismo" e continuaram apoiando depois que Lula aderiu ao "neoliberalismo". De fato, se pesquisa é militância, então o compromisso com a verdade deixa de fazer sentido: será verdadeira a idéia que for útil ao partido e ponto final.
Em Sex, Outubro 6, 2006 9:00 am, Fábio escreveu:
>A prosa tá ficando boa, então vamos colocar mais pimenta neste angu... Recebi este comentário e repasso para apreciação. Não sei o nome do jornalista pois já recebi assim, mas como em época de campanha está valendo de tudo (de tudo mesmo!!!), vai assim.
>Forte abraço a todos.
>Fábio
>> GERALDO ALCKMIM
>> Bajulador da ditadura militar
>> Até hoje, Alckmin se gaba de ter sido um dos
>> vereadores mais jovens do país, com 19 anos, e de ter tido uma votação
>> histórica neste pleito - 1.147 votos (cerca de 10% do total). Mas,
>> segundo o depoimento de Paulo de Andrade, presidente do MDB nesta
>> época, outros fatores interferiram nesta sua eleição. O tio de
>> Alckmin, José
>> Geraldo Rodrigues, acabara de ser
>> nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal pela ditadura. "Ele
>> transferiu prestígio para o sobrinho". A outra razão era histórica.
>> Geraldo é
>> sobrinho-neto do folclórico político mineiro José Maria Alckmin, que
>> foi o vice-presidente civil do general golpista Castelo Branco. "Ter
>> um Alckmin no MDB era um trunfo [para o regime militar]', diz Andrade".
>> Tanto que o jovem vereador se tornou um
>> bajulador da ditadura. Caio Junqueira, em um artigo no jornal Valor
>> (03/04/06), desenterra
>> uma carta em que ele faz elogios ao general Garrastazu Médici, "que
>> tem se mostrado sensível aos problemas sociais, trabalhistas e
>> previdenciários do que trabalham para a grandeza do Brasil". Como
>> constata o jornalista, Alckmin sempre se manteve "afastado de
>> qualquer movimento de resistência ao regime militar... Ao contrário
>> das personalidades que viriam a ter fundamental papel em sua
>> trajetória política, relacionava-se bem com o regime. O tom afável do
>> documento encaminhado a Médici, sob cujo governo o Brasil viveu o
>> período de maior repressão, revela a postura de não enfrentamento da
>> ditadura militar, fato corroborado pelos relatos de colegas de
>> faculdade e políticos que com ele atuaram".
>> Homenagem ao Opus Dei
>> Em 1976, Alckmin foi eleito prefeito da sua
>> cidade natal por uma diferença de apenas 67 votos e logo de cara
>> nomeou seu pai como chefe de gabinete, sendo acusado de nepotismo.
>> Ainda como
>> prefeito, tomou outra iniciativa definidora do seu perfil, que na
>> época não despertou muitas suspeitas: no cinqüentenário do Opus Dei,
>> em 1978, ele batizou uma rua de Pinda com o nome
>> de Josemaría Escrivã de Balaguer, o fundador desta seita fascista. Na
>> seqüência, ele foi eleito deputado estadual (1982) e federal (1986). Na
>> Constituinte, em 1988, teve uma ação
>> apagada e recebeu nota sete do Diap; em 1991, tornou-se presidente da
>> seção paulista do PSDB ao derrotar o grupo histórico do partido,
>> encabeçado por Sérgio Motta. Em 1994, Mario Covas o escolheu como
>> vice na eleição para o governo estadual. Já famoso por sua ação
>> pragmática e de "rolo compressor", coube-lhe a função de presidente do
>> Conselho de
>> Desestabilização do Estado. As privatizações das
>> lucrativas estatais foram feitas sem qualquer transparência ou diálogo
>> com a sociedade - gerando várias suspeitas de negócios ilícitos. Nas
>> eleições para prefeitura da capital paulista, em 2000, obteve 17,2%
>> dos votos, ficando em terceiro lugar. Com a morte de Mário Covas, em
>> março de 2001, assumiu o governo e
>> passou a mudar toda a sua equipe, gerando descontentamento até mesmo
>> em setores do PSDB. Em 2002, Alckmin foi reeleito governador no
>> segundo turno, com 58,6% dos votos.
>> A turma de Pinda
>> Numa prova de sua vocação autoritária, um de
>> seus primeiros atos no governo estadual foi a nomeação do delegado
>> Aparecido Laerte Calandra -
>> também conhecido pela alcunha de "capitão Ubirajara", que ficou famoso
>> como um dos mais bárbaros torturadores dos tempos da ditadura - para
>> o estratégico comando do Departamento de Inteligência da Polícia Civil.
>> Com a mesma determinação, o governador não vacilou em excluir os históricos do
>> PSDB
>> do Palácio dos Bandeirantes, cercando-se apenas de pessoas de sua
>> estrita confiança e lealdade - a chamada "turma de Pinda". Atuando de
>> maneira impetuosa e inescrupulosa, ele passou a preparar o terreno
>> para impor sua candidatura à presidência da República no interior do
>> partido. Num artigo intitulado "Como a turma de Pinda
>> derrotou os cardeais tucanos", o dirigente petista Joaquim Soriano
>> descreve a postura excludente do ex-governador. "Alckmin nasceu em
>> Pindamonhangaba, lá foi vereador e prefeito. Foi
>> deputado estadual e federal. Foi vice de Covas, do qual se diz
>> herdeiro. Herdou o governo e logo tratou de colocar a
>> turma de Covas para fora. Ocupou os lugares com seus fiéis. Na turma
>> do Alckmin não tem intelectuais nem economistas famosos, como é do gosto dos
>> tucanos".
>> Sua
>> equipe é formada por pessoas sem tradição na história política
>> nacional; é composta por tecnocratas subservientes. Esta conduta
>> centralizadora é que explicaria, inclusive, a resistência de áreas do
>> PSDB a sua
>> candidatura.
>>
>>
>> Governador truculento
>> Como governador de São Paulo, Alckmin nunca
>> escondeu sua postura autoritária. Sempre fez questão de posar como
>> inflexível, como um governante avesso ao diálogo. Ele se gabava das
>> suas ações "enérgicas" de criminalização dos movimentos sociais e de
>> satanização dos grevistas. Não é para menos que declarou entusiástico
>> apoio à prisão de José Rainha, Diolinda e outros líderes do MST no
>> Pontal do Paranapanema; aplaudiu a violenta
>> desocupação dos assentados no pátio vazio da Volks no ABC paulista e
>> em outras ocupações de terras urbanas ociosas; elogiou a prisão do
>> dirigente da Central dos Movimentos Populares (CMP), Gegê; e nunca fez
>> nada para investigar e punir as milícias privadas dos latifundiários
>> no estado. Durante seu reinado, o sindicalismo não
>> teve vez e nem voz. Ele se recusou a negociar acordos coletivos,
>> perseguiu grevistas e fez pouco caso dos sindicalistas. Que o digam
>> os docentes das universidades, que realizaram um das mais longas
>> greves da história e sequer foram recebidos; ou os professores das
>> escolas técnicas, que pararam por mais de dois meses, não foram
>> ouvidos e ainda foram retalhados com 12 mil demissões. "O governo
>> estadual mantém a mesma política de arrocho salarial de FHC, com o
>> agravante de reprimir, não só com a força policial, mas com diversos
>> mecanismos arbitrários, o legítimo direito de greve dos servidores",
>> protestou o ex-presidente da CUT,
>> Luis Marinho, atual ministro do Trabalho.
>>
>>
>> A linguagem da violência
>> Os avanços democráticos no país não tiveram
>> ressonância no estado. Ele sabotou a implantação de fóruns de
>> participação da sociedade, como o Conselho das Cidades, criados pelo
>> governo Lula. O movimento de moradia promoveu vários atos criticando o
>> desrespeito à Lei nº. 9.142, que prevê a aplicação de 10% do ICMS em
>> casas populares, e exigindo a criação do Conselho Estadual de
>> Desenvolvimento
>> Habitacional. "Há
>> mais de dois anos que o governador dá as costas para o movimento
>> social e o movimento sem teto de São Paulo", criticou Benedito
>> Barbosa, líder da CMP,
>> durante um protesto em agosto de 2004. Veruska Franklin, presidente da
>> Facesp, também condenou
>> "o autoritarismo e a truculência de Geraldo Alckmin".
>> Avesso ao diálogo e à democracia, a única
>> linguagem entendida pelo ex-governador é o da repressão dura e crua.
>> Isto explica sua política de segurança pública, marcada pelo total
>> desrespeito aos direitos humanos e que tornou o estado num grande
>> presídio. Semanalmente, 743 pessoas são depositadas em penitenciárias
>> superlotadas de São Paulo - já são 124 mil detentos para 95 mil vagas.
>> Segundo relatório da
>> Febem, o ex-governante demitiu 1.751
>> funcionários e, hoje, 6.500 menores vivem em condições subumanas,
>> sofrendo maus-tratos. Nos últimos quatro anos, 23 adolescentes foram
>> assassinados nestas escolas do crime, o que rendeu a Alckmin uma
>> condenação formal da Corte Internacional da OEA. Dados da Unicef
>> revelam que o Estado concentra as piores taxas de homicídios de jovens
>> do país: 16,3 mil por ano ou 107 por dia.
>> A submissão dos poderes
>> Contando com forte blindagem da mídia, que
>> reforçou a caricatura do governador como um "picolé de chuchu",
>> insosso e anódino, Alckmin conseguiu submeter quase que totalmente o
>> Poder
>> Judiciário, que hoje está infestado de tucanos
>> enrustidos, e garantir uma maioria servil no Poder Legislativo.
>> Através
>> de um artifício legal do período da ditadura militar, o atual
>> "paladino
>> da ética" abortou 69 pedidos de CPIs (Comissões Parlamentares de
>> Inquérito) na
>> Assembléia Legislativa de São Paulo - destas, 37
>> tinham sido solicitadas para investigar irregularidades, fraudes e
>> casos de corrupção da sua administração. Este abuso autoritário só
>> recentemente foi superado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal,
>> que considerou que o tal dispositivo fere o artigo 58, parágrafo 3º da
>> Constituição e liberou a instalação das CPIs.
>> Como sintetiza o sociólogo Rodrigo Carvalho, no
>> livrete "O retrocesso de São Paulo no governo tucano", Geraldo Alckmin
>> marcou sua gestão pela forma autoritária como lidou com a sociedade
>> organizada e pelo rígido controle que exerceu sobre os poderes
>> instituídos e a mídia. "Alckmin trata os movimentos sociais como
>> organizações criminosas, não tem capacidade de dialogar e identificar
>> as demandas da sociedade...
>>
>>
>> Além disso, ele utilizou sua força política para
>> impedir qualquer ação de controle e questionamento das ações do
>> governo". Esta
>> conduta abertamente antidemocrática, que não nega sua formação
>> política, é que "conquistou o respeito dos maiores industriais,
>> banqueiros e latifundiários de São Paulo" e que o projetou para a
>> disputa da presidência da República, derrotando inclusive alguns
> tucanos históricos.
>> Jornalista, editor da revista Debate Sindical
Assunto: Ao Fábio
De: diniz@ufpr.br
Data: Qui, Outubro 19, 2006 5:14 pm
Para: "<fábio@yahoo.com.br>
CC: diniz@ufpr.br (mais)
Fábio,
Texto que circula pela internet do jeito que você o divulgou, sem autoria, é campanha viral sim, motivo pelo qual você não deveria ter repassado o texto para a lista. Se você resolveu ir atrás do autor para consertar a situação, menos mal, pois significa que já está começando a se impor um mínimo de cuidado nesta discussão.
Mas em qual número da Carta Capital, revista da qual o Altamiro Borges é editor, saiu a dita matéria?
De qualquer modo, se o autor do texto é ele, já está aí uma forte evidência de que se trata de trabalho jornalístico de conteúdo questionável, para dizer o mínimo. Afinal, a revista Carta Capital chega a ter 70% do seu espaço publicitário ocupado com anúncios de estatais do governo federal, motivo pelo qual jornalistas de outros veículos já apontaram a falta de credibilidade dessa publicação! Talvez seja justamente por isso que o nome dele foi retirado da matéria pela pessoa que lhe passou a campanha viral que você depois espalhou aqui: porque talvez algumas pessoas bem informadas já estejam começando a duvidar de matérias que vêm da Carta Capital e da IstoÉ, ambas pertencentes ao mesmo grupo editorial.
Com efeito, Carta Capital e IstoÉ, que também depende muito de anúncios de estatais do governo federal para preencher seu espaço publicitário, nada mais são do que panfletos petistas disfarçados. Para mostrar isso, reproduzo abaixo um trecho do artigo “Como IstoÉ Tornou-se IstoEra”, uma carta aberta do jornalista Luiz Cláudio Cunha, ex-editor de política da sucursal de Brasília da IstoÉ, a Carlos José Marques, diretor-editorial dessa mesma revista.
"ISTOÉ, pelo jeito, não quer afligir mais ninguém, principalmente os poderosos. Deve ser por isso que a ISTOÉ desta semana consegue o milagre de produzir uma matéria sobre o caseiro Nildo, aquele que viu as bandalheiras da "República de Ribeirão Preto", sem citar uma única vez o santo nome de Antonio Palocci. E discorre sobre a vergonhosa quebra de sigilo do caseiro omitindo acintosamente o nome do assessor de imprensa Marcelo Netto, um dos suspeitos de envolvimento no crime. Reclamo porque fui eu que escrevi a matéria, e nela constavam os dois nomes – Palocci e Marcelo. Meu texto foi lipoaspirado, desintoxicado dos nomes do ministro e do assessor, e assim publicado. Por isso, recusei assinar a matéria, que não refletia o que o repórter mandou de Brasília na noite de quinta-feira 23 [negrito meu]. E nem precisaria tanto drama, porque os nomes da dupla já estavam, desde manhã cedo, nas edições da Folha de S.Paulo e do Correio Braziliense. A revista não estaria fazendo carga contra ninguém, estaria apenas sendo fiel aos fatos. Perdeu uma bela oportunidade de não ficar calada. Até porque, momentos atrás, o Palocci acaba de se demitir, por todos os motivos que tínhamos e não explicitamos". <http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=374IMQ004>
Mas, tudo bem, você diz que teve tempo de "verificar" que algumas informações da matéria do Altamiro são confiáveis e que teve tempo até de saber "detalhes" que tornam os fatos até mais "cabeludos", o que significa que suas fontes devem ser muito boas! Pena que você não teve tempo de nos informar quais as fontes que consultou na sua "verificação", nem quais foram os tais "detalhes" que descobriu e nem ao menos de dizer quais fatos você apurou que são verdadeiros e quais você não teve tempo de apurar. Tá certo, cada um administra seu tempo da forma que lhe for mais conveniente... Acredite quem quiser.
Em Ter, Outubro 17, 2006 2:24 pm, Fábio escreveu:
> Caro Diniz e demais colegas
>
>
> Sinto muito em desapontá-lo mas o texto que enviei não se trata de uma
> "campanha viral petralha", não é mentirosa e nem traz justificativas
> falsas. Peço desculpas a todos os participantes da lista por não ter citado o
> autor do texto anteriormente, mas como o Diniz muito bem salientou o
> caráter ACADÊMICO (sic) da lista, resolvi buscar o autor e resolver a
> situação. Também fui confirmar algumas das afirmações do texto "apócrifo"
> para verificar a veracidade das informações. Lógico que não fui verificar
> todas visto que não disponho desse tempo... mas algumas das afirmações
> que verifiquei são verídicas e na verdade são muito mais cabeludas quando
> se conhecem detalhes. Fica a critério de cada um... e de seu tempo
> disponível também.
>
> Antes que me esqueça, o autor do texto é o jornalista Altamiro Borges.
>
>
> Um abraço
> Fábio