17 - VIDROS :- INTRODUÇÃO
Envolvem dois conceitos, a saber : produto comercial conhecido e o estado particular da matéria, o "Estado Vítreo", onde, uma matéria em estado fundido submetida ao abaixamento de sua temperatura, prolonga-se no estado líquido, entendendo-se que a dureza adquirida não é a solidificação propriamente dita, e sim, devida ao aumento progressivo da viscosidade durante todo o período de resfriamento .
Assim, o vidro é considerado um liquido super-resfriado de alta viscosidade (1013 poise, a viscosidade da água em temperatura ambiente é 0,01 poise) sem composição exatamente fixa, portanto, com ponto de fusão variável dentro de certos limites, de acordo com a composição .
A propriedade característica dos vidros, proporcionada pela existência de u, mesmo que alta, é a conformabilidade, podendo sofrer uma deformação permanente, o que não ocorre corn os sólidos verdadeiros.
Os materiais pertencentes ao estado vítreo, assim como o vidro, possuem as seguintes propriedades :
1. Possuem estrutura amorfa ( não são cristalinos )
2. Possuem o mesmo índice de refração em todas as direções, não atuando sobre a luz polarizada, ao contrário dos materiais cristalinos, com exceção do sistema cúbico;
3. Predominantemente transparentes, embora existam os translúcidos e os opacos; 4. Baixa condutividade térmica, elétrica e acústica ;
5. Instabilidade a altas temperaturas; quando expostos por longo período a uma temperatura acima de seu ponto de amolecimento, cristalizam-se, fenômeno chamado desvitrificação;
6. Não possuem ponto de fusão definido; não há uma temperatura definida para que haja a mudança de fase. Acontece o amolecimento gradativo até ser atingido o estado liquido.
DEFINIÇÃO
Fisicamente, o vidro é um liquido super-resfriado, rígido, sem ponto de fusão definido, com viscosidade alta o suficiente para impedir a sua cristalização.
Quimicamente, é o resultado da união de óxidos inorgânicos não voláteis, provenientes da decomposição e da fusão de compostos alcalinos e alcalinos-terrosos e de outras substâncias em conjunto com a sílica, formando um produto final de estrutura atômica amorfa em seus silicatos.
É predominantemente vitrificado em sua estrutura, ocorrendo baixos teores de substâncias não vítreas em suspensão em algumas de suas composições .
CONSTITUINTES DO VIDRO E A DESVITRIFICAÇÃO
O vidro, sendo um composto mineral, tem as suas propriedades de transparência, cor, elasticidade, resistência mecânica, térmica e química e faixa de amolecimento (oscilando entre 1000 e 1400° C) diretamente relacionadas à sua composição.
Temperaturas acima desta faixa são encontradas para os vidros especiais, como os vidros com teor de SiO2 acima de 96%, acompanhando um longo período térmico de plasticidade - PTP ( intervalo de temperatura em que o vidro pode ser trabalhado) .
Sendo o vidro uma substância formada pela combinação de sílica com potassa (K2O) ou soda (Na2O, alcalinos) e de pequenas quantidades de outras bases alcalinas-terrosas com a formação dos respectivos silicatos, cada componente possui uma função nas qualificações finais do vidro, não podendo ser substituídos, a não ser por um de características químicas semelhantes, ou seja, alcalinos por alcalinos e alcalinos-terrosos por alcalinos-terrosos .
Os constituintes elementares para a indústria do vidro são a soda, a cal e a sílica (indispensável para qualquer tipo de vidro) .
Estruturalmente, devido às condições de eletrovalencia da sílica, esta pode formar moléculas complexas, combinando-se até mesmo por polimerização.
Na proporção em que aumenta-se o teor de sílica em uma composição, aumenta-se a temperatura de amolecimento da massa vítrea, sendo que para altos valores encontram-se os vidros classificados como vidros ricos em sílica, formando-se variedades alotrópicas Tridimita,(870°C) 80%-90% em teor de sílica e a Cristobalita, (1470°C-1710°C) com teor maior que 90% em sílica, conservando-se estáveis indefinidamente nas temperaturas ordinárias.
A tendência natural dos materiais vítreos é a de se conduzirem a estruturas cristalinas (uma questão de equilíbrio de energia interna, em cinética lenta ).
Entretanto esta cristalização é favorecida pela exposição prolongada à altas temperaturas, proporcionando uma fluidez o suficiente para que as moléculas possam se orientar adequadamente.
Industrialmente, quando se resfria de forma demasiadamente lenta, ou quando se mantém exposto o vidro por um período prolongado em uma temperatura elevada (superior a de seu ponto de amolecimento ) a cristalização se produz.
Este processo de perda do estado vítreo e conseqüente cristalização é dito “desvitrificação”.
Este fenômeno ocorre em duas etapas : nucleação inicial e crescimento dos cristais A nucleação pode ser proporcionada das seguintes formas :
· Nucleação homogênea ; forma-se em alguns pontos da composição vítrea zonas ou "germes de cristais” com uma energia livre diferente da composição do material, os quais se transformam em cristais maiores de acordo com a magnitude da velocidade de crescimento destes ;
· Nucleação heterogênea ; caso comum, devido a presença de impurezas que atuam como agentes nucleantes .
Matérias Primas e Constituintes
Há uma diferença : matéria-prima é a parte bruta que pode sofrer uma transformação, (CaCO3 ), enquanto que o constituinte é o óxido fixo que entra na composição final do vidro, (no caso exemplificado, CaO).
Óxidos Ácidos
Estão aqui inseridos a areia e o quartzo; O bórax (Na2.2B2O3.10H2O ) é também adicionado como ácido bórico ; óxido de boro (B2 O3)-, P2O5 ; As2O3.
Areia e Quartzo
Ambos introduzem sílica (SiO2),
o principal componente do vidro.
Areia é o produto da desagregação natural de minerais silícicos, utiliza-se a areia dita quartzífera, ou seja, com alto teor de sílica (superior a 98%) desqualificando-se a areia de construção civil .
O tratamento empregado para a purificação é a lavagem, a levigação
( redução de uma substância a pó por moagem em água, seguida de sedimentação
fracionada, a fim separar as partículas em diâmetros finos e grossos ) e
separação por peneiramento
Quanto a composição mineralógica, as matérias-primas devem estar
preferencialmente isentas de minerais de alto ponto de fusão (Cromita Cr2O3.FeO
; Espinélio, MgO.Al2O; Rutilo, TiO2 ; Zircão, ZrSiO4
). Como agravante temos o teor de
ferro, que imprime ao vidro uma coloração amarelada como função do teor
e estado de oxidação.
Analisando-se a viabilidade econômica do processo, pode-se eliminar por completo o ferro presente na areia, pelo tratamento com HCl ou separação magnética ( conforme a destinação do vidro tolera-se determinados teores de ferro :- para vidro ótico 0,01% em Fe2O3, vidro branco 1a. 0,02%, vidro âmbar para frascos 0,50% até 1,00% ).
Quanto a granulometria , esta deve ser compatível ao tipo de forno destinado ao fabrico de vidro.
Deve-se atentar para a dificuldade de fusão de partículas grossas, e para o arraste dos finos pelos gases de combustão. Geralmente a granulometria oscila entre 0,2 mm e 0,8 mm.
A areia na composição final de mistura para ser introduzida nos fornos, ainda deve respeitar um teor de umidade entre 4 a 5%, fundindo com maior facilidade que a areia seca, pois os grãos de areia são melhor envolvidos pelos carbonatos fundentes, ( Na e K) e evita-se, no manuseio, a produção de pó.
Bórax (Na2.2B2O3.10H2O )
Economicamente mais usado que o H3BO3 ( utilizado em vidros especiais em que não se deseja introduzir o Na2O ). 0 bórax tem a propriedade de tornar a massa vítrea fusível em menor temperatura e diminuir a viscosidade, permitindo o escape dos gases gerados na massa e o seu refino .
As propriedades conferidas pelo bórax ao vidro, além das já citadas são :
· 1.Evita a desvitrificação 2.Torna-o mais brilhante 3. Estimula a dissolução dos corantes ( massa fluida ) 4.Aumenta a resistência química e, principalmente, a térmica.
Devido a estas propriedades, entra em composição com teores acima de 12%.
É observado, que, para teores de até 0,4%, há um decréscimo na temperatura de amolecimento em 10% para cada 0,1% adicionado, motivo pelo qual é empregado em
todas as formulações ( vidros para espelhos, janelas, garrafas e peças ocas), aumentando o rendimento das fornadas .
H3 PO 4 e As2O 3
0 ácido fosfórico é opacificante. Essas matérias-primas são utilizadas como agentes vitrificantes, onde, pela ação do calor excessivo, mutam da forma cristalina para a forma amorfa, vítrea .
ÓXIDOS BÁSICOS / ALCALINOS
Destacam-se os óxidos dos metais alcalinos ( Na, K, Rb, Cs ) e os alcalinos-terrosos (Be, Mg, Ca, Ba, Sr, Ra ). Destes, o principal é o sódio devido ao baixo custo e disponibilidade. São introduzidos na massa vítrea sob forma de carbonatos (Na2 CO3 ), sulfatos (Na2SO4) e nitratos (NaNO3) . Estes óxidos alcalinos de sódio, assim como os de potássio são também chamados de fundentes : reagem com os materiais vitrificantes facilitando a fusão em temperatura menor e permitem um período térmico de plasticidade (PTP) maior.
Os fundentes são modificadores da cadeia molecular, fornecendo cátions livres para a estrutura, interagindo com os átomos de oxigênio covalentes ao silício, eliminado uma porcentagem destas pontes de ligações ( oxigênio-ponte: ligados aos Si adjacentes, formando tetraedros de SiO4 ) Isto reduz a energia de ativação requerida para a movimentação atômica necessária à fluidez do vidro.
A energia de ativação necessária para o fluxo viscoso diminui quanto menor for a porcentagem de átomos de oxigênio compartilhados por tetraedros adjacentes.
0 Na2 CO3., ( dito soda ) tem como função, fundir a sílica. Exige-se da matéria-prima as seguintes qualidades:
· Pureza: 98%-99%;
. Cloretos, máximo 0,1%;
· Insolúveis em água, máximo 0,1%;
· Umidade: I%-2%;
· Fe e sulfatos : ausência ou traços
· Granulometria : partículas densas de 0,5 mm - 1,5 mm.
A vantagem de se usar soda ( soda Solvay ) densa , em se comparando com a leve é a menor higroscopicidade, menor volume de armazenagem, excelente condutividade térmica, facilitando a fusão e a principal : quando em manuseio de carga ao forno, não há o levantamento de pó.
Potássio
Introduzido na massa vítrea como carbonato calcinado (K2CO3) ou hidratado. Tem seu custo mais elevado que a soda e maior dificuldade de aquisição. Por ser muito higroscópico, a armazenagem deve ser conduzida em estufa ou lugar seco .
Em forma de sulfato, assim como o sulfato de sódio, são mais baratos, porém há a liberação de SO2 e SO3, prejudiciais ao refino do vidro. São usados moderadamente.
ÓXIDOS ALCALINOS-TERROSOS
O silicato de sódio formado ( Na2O.SiO2 ) quando no uso da soda, é instável, formando o vidro solúvel .
A adição de carbonatos de metais alcalinos-terrosos, em especial o cálcico, produzindo CaO, proporciona a rigidez necessária para o vidro quando resfriado. Este óxido é um endurecedor, dando ao vidro a propriedade de ser moldado. O MgO possui comportamento semelhante.
Quanto ao BaO, é utilizado sob forma de carbonato precipitado, comunicando ao vidro um elevado índice de refração da luz, um amplo período térmico de plasticidade (PTP) e a clarificação da massa fundida O CaO, assim como o Al2O3 e PbO descritos abaixo, comporta-se como estabilizante, reagindo com os fundentes com a finalidade de tornar o vidro estável e inalterável pelos agentes atmosféricos e, em particular, pela água.
Óxido de Alumínio
Adicionado á massa (Al2O3) sob forma de caulim e feldspato caso não haja o inconveniente dos álcalis solúveis, aumenta a resistência química e evita a desvitrificação .
Óxido de Chumbo - PbO
Utilizado em vidros especiais. Aumenta o índice de refração da luz ( vidros óticos ). É adicionado sob forma de Mínio (Pb3O4) que desprendendo oxigênio (880°C), comporta-se como agente de refino; transformando-se em PbO (litargirio) de baixo ponto de fusão para a indústria do vidro .
Óxido de Zinco
É refratário, exige temperaturas altas, sendo então pouco utilizado. Confere resistência química e opacidade
MATÉRIAS-PRIMAS ACESSÓRIAS
Relacionam-se os agentes de refino, ( As2O3 , Sb2O3 , NaNO3 , KNO3 ); os descorantes, (MnO2 , Se, Co, Sb2O3 ,As2O3); os opacificantes, ( fluoretos de cálcio, Na, ácido fluorídrico e P2 O5 ); os corantes, ( óxidos de metais pesados, principalmente os de transição com orbitais “d” incompletos) e sucata de vidros reciclados.