A Natureza e o Conteúdo do Planejamento
INTRODUÇÃO
Sabedoria é a capacidade
de prever as conseqüências, a longo prazo, de
ações atuais, a disposição de
sacrificar ganhos a curto
prazo em favor de benefícios a longo prazo e a
habilidade de controlar o que é
controlável e de não se afligir com o
que não o é. A essência da sabedoria, portanto, é a preocupação com
o futuro. Não é, porém, a
preocupação com o futuro
que o adivinho tem; ele só
tenta prevê-lo. O sábio tenta
controlar o futuro.
Planejamento é a definição de
um futuro desejado e de meios eficazes
de alcançá-lo. É um instrumento usado pelo
sábio, mas não
só por ele.
Quando utilizado por homens de
capacidade inferior, este
instrumento se transforma num
ritual irrelevante que
produz paz de espírito a curto
prazo, mas não o
futuro que se deseje.
Perguntei, recentemente, a três executivos
quais decisões eles
haviam tomado no último ano, que
não teriam tomado se não fosse em
decorrência dos planos de suas
empresas. Todos tiveram dificuldade em identificar
sequer uma decisão com esta
característica. Como todos os
seus planos eram rotulados de "secretos" ou
"confidenciais", perguntei-lhes,
também, de que maneira
seus concorrentes se beneficiariam com o conhecimento destes planos. Constrangidos, cada um
respondeu que seus concorrentes não
teriam nenhum benefício. Mesmo
assim, esses executivos
eram defensores convictos do
planejamento empresarial.
A necessidade de
planejamento empresarial é tão óbvia e
tão grande, que é
difícil para
qualquer pessoa se opor a ela. Porém, é
ainda mais difícil
tornar tal
planejamento útil. Planejamento é uma das atividades intelectuais mais complexas e difíceis nas quais um
homem pode se envolver. Não fazê-lo
bem não é
um pecado, mas
contentar-se em fazê-lo pior do que
seria possível, é imperdoável.
Ainda não se conhece
planejamento empresarial suficientemente bem, para se preparar um manual
sobre o assunto. No momento, e por
mais algum tempo
ainda, o planejamento terá que ser moldado pelas
características típicas da organização e da situação na qual
ele é desenvolvido. Entretanto, é possível dar-se alguma orientação dentro de contexto bastante amplo.
Pode-se tentar algumas considerações sobre o que o
planejamento pode fazer, delinear uma filosofia pela
qual ele pode ser abordado,
além de um conceito de
como pode ser
organizado e sistematizado, e um
conhecimento dos melhores métodos, técnicas e instrumentos que
possam ser incorporados a ele.
A ciência
relevante ao planejamento tem se desenvolvido rapidamente. Entretanto, mesmo o melhor
planejamento que somos capazes de fazer, requer
pelo menos
tanta arte
quanto requer ciência. Eu
estou tão interessado em aperfeiçoar a arte quanto à
ciência. Em nenhum
outro trabalho, esta boa união é
tão importante quanto no planejamento.
A principal contribuição dos cientistas ao planejamento pode não estar no desenvolvimento e no uso de técnicas
e instrumentos relevantes, mas,
sim, na sua sistematização e organização do processo de
planejamento e no constante desenvolvimento e avaliação deste processo.
A NATUREZA DO
PLANEJAMENTO
O planejamento é, nitidamente, um processo de tomada de decisão; mas, é
claro que nem
todo processo
decisório é planejamento. Não são
tão claras, porém,
as características que fazem do planejamento um
tipo especial de tomada de decisão. Ele é
especial de três formas:
1. Planejamento é
algo que fazemos antes de agir; isto é, tomada antecipada de decisão. É um processo de decidir o que fazer, e como fazê-lo,
antes que se requeira uma ação. Se
desejarmos certa situação em
algum tempo, no futuro, e demora-se para
decidir o que
fazer, e como
fazê-lo, devemos tomar as decisões necessárias antes de agir. Se essas
decisões pudessem ser tomadas
rapidamente sem perda da eficiência, não
seria necessário planejar.
2. Planejamento é
necessário quando a consecução do estado futuro
que desejamos envolve um conjunto de
decisões interdependentes; isto é, um sistema de decisões. Um
conjunto de decisões forma um sistema, se o
efeito de cada decisão no
resultado desejado depende de, pelo menos,
outra decisão do conjunto. Algumas decisões do conjunto podem ser
complexas, outras simples. A principal complexidade do planejamento,. porém, advém mais do inter-relacionamento das decisões do que
delas em si. Por
exemplo, ao se planejar uma casa, a
decisão de colocar a sala-de-visitas em determinado
local tem um efeito
sobre a localização de todas as outras dependências e, portanto, no "desempenho" da casa como
um todo.
Conjuntos de decisões
que exijam planejamento têm as seguintes características importantes:
a) são
muito grandes para serem
manipulados de uma só vez. Portanto, o
planejamento deve ser dividido em
estágios ou fases,
que sejam desenvolvidas seqüencialmente em um
único ponto de
decisão, ou simultaneamente, em diferentes
pontos ou mesmo
por alguma união de esforços
em série e simultâneos. O planejamento deve ser
dividido por etapas, ou
em outras palavras, ele
deve ser planejado em si.
b) o
conjunto de decisões necessárias não pode ser subdividido
em subconjuntos independentes. Assim, um
problema de planejamento não
pode ser dividido em problemas
independentes de subplanejamento. Os
problemas de subplanejamento devem
ser inter-relacionados. Isto quer
dizer que
decisões tornadas em primeiro lugar no processo de
planejamento devem ser levadas em
consideração, ao se tomar outras posteriormente; e as primeiras decisões devem ser
revistas à luz das outras que lhes
seguirem. É por isto que o
planejamento deve ser feito
antes que seja necessário agir.
Estas duas propriedades sistêmicas do planejamento provam que ele
não é um ato e
sim um processo,
sem fim natural ou
ponto final. É
um processo
que (se espera) se aproxime de uma "solução", mas
nunca chega mesmo
até ela, por duas
razões. Primeira, porque
não há limite
para a quantidade de
revisão que se possa fazer de
decisões anteriores. Entretanto, o fato de que,
eventualmente, é necessário agir, faz com que se tenha
que adotar o
planejamento da maneira que
ele estiver num determinado momento. Em
segundo lugar, tanto o
sistema para o
qual se planeja, quanto o seu
ambiente mudam durante o processo de
planejamento e nunca é possível
levar-se todas estas mudanças em
consideração. Em parte,
em função disto é que existe uma necessidade contínua de atualização e "manutenção" de um plano.
3. Planejamento é
um processo
que se destina a produzir
um ou mais
estados futuros desejados e que não deverão
ocorrer, a menos que alguma
coisa seja feita. O
planejamento, portanto, se preocupa tanto em
evitar ações
incorretas, quanto em reduzir a freqüência dos fracassos ao se explorar
oportunidades. É óbvio que se se
acredita que o curso natural
dos acontecimentos vai produzir o estado
futuro desejado, então não há
necessidade de se planejar. O planejamento, portanto, tem um
componente pessimista e um
otimista. O pessimismo está na crença de que,
se não se fizer nada, o estado
futuro desejado não deverá ocorrer. O
otimismo está na crença de que
alguma coisa possa ser
feita para aumentar a probabilidade de que o estado
futuro desejado venha a ocorrer.
Em resumo, podemos dizer que o
planejamento é um processo que envolve tomada e avaliação de cada decisão de
um conjunto de decisões inter-relacionadas, antes que seja
necessário agir, numa
situação na qual se acredita que, a menos
que se faça alguma coisa, um
estado futuro desejado não deverá ocorrer e
que, se se tomar as atitudes
apropriadas, pode-se aumentar a probabilidade de um resultado
favorável.
PLANEJAMENTO TÁTICO E
ESTRATÉGICO
A distinção entre
planejamento tático e estratégico é sempre feita, mas quase
nunca é clara. Decisões,
que para
alguns pareçam estratégicas, podem
parecer táticas para outros. Daí podemos concluir que a
distinção é relativa e não
absoluta. Grande parte da
confusão, e aparente ambigüidade, vem do
fato de que a diferença
entre planejamento tático e estratégico é tridimensional.
1. Quanto
mais demorado for o efeito de um
plano e quanto mais
difícil for alterá-lo, mais estratégico
ele será. Portanto, planejamento estratégico lida
com decisões de efeitos duradouros que
sejam difíceis de se modificar. Por exemplo, o
plano de produção da próxima
semana é mais tático e
menos estratégico do que o planejamento de uma nova fábrica
ou de um novo sistema de distribuição. Planejamento estratégico é para
longo prazo. Planejamento tático é para prazo mais
curto. Como, porém,
"longo prazo" e "curto
prazo" são termos
relativos, "tático" e "estratégico" também o são.
Em geral, o planejamento estratégico preocupa-se com o período de
tempo mais longo
com que valha a pena
se preocupar, enquanto o tático preocupa-se com o período de
tempo mais curto
com que valha a pena
se preocupar. Ambos são
necessários. Eles se complementam. Eles são
como a "cara"
e a "coroa" de uma moeda: podemos examiná-los separadamente, podemos
até discuti-los separadamente,
mas não podemos separá-los de fato.
2. Quanto
mais as atividades de uma organização forem afetadas por um
plano, mais estratégico
ele será. Ou seja, planejamento estratégico é amplo. Planejamento tático é mais
restrito. "Amplo" e "restrito"
também são conceitos
relativos que aumentam a relatividade do que é "estratégico" e do que é "tático".
Um plano estratégico para
um departamento pode ser
um planejamento tático do ponto de
vista de uma divisão. Em
condições idênticas, planejamento ao nível da
administração central é, geralmente, mais
estratégico do que a qualquer
nível inferior.
3. Planejamento
tático se destina a escolher os
meios pelos quais se
tentará atingir objetivos especificados. Os objetivos são,
geralmente, ditados pelos
níveis hierarquicamente mais altos na
organização. O planejamento estratégico destina-se tanto à formulação dos objetivos quanto
à escolha dos meios para atingi-los.
Planejamento estratégico, portanto, se orienta para
fins e para
meios. Entretanto, "meios" e "fins"
são também conceitos
relativos. Por exemplo,
"anunciar um
produto" é um meio de
"vendê-lo". "Vendê-lo", entretanto, é
um meio de se chegar ao
fim "lucro" e
lucro é, em
si mesmo, um
meio de se chegar a muitos
outros fins.
Em resumo,
planejamento estratégico é planejamento empresarial a longo prazo,
que é orientado para objetivos-fins (mas não
apenas para
estes). Deve estar claro
que tanto o planejamento estratégico quanto o tático
são necessários para
maximizar o progresso da empresa.
AS PARTES DO
PLANEJAMENTO
Como o planejamento
deveria ser um
processo contínuo, nenhum
plano seria definitivo; estaria sempre sujeito à
revisão. Um plano,
então, não é o produto
final do processo de planejamento; é um relatório
intermediário. É um registro de um conjunto de
decisões interdependentes, que pode ser dividido de
diversas maneiras. Planejadores
diferentes preferem maneiras diferentes de subdividir as
decisões que devam ser feitas. Desde
que todas as decisões importantes sejam consideradas, as diversas
maneiras de se dividir um
plano em partes
são principalmente uma questão
de preferência pessoal ou de
estilo. Portanto, não
precisamos nos preocupar com as
vantagens e as desvantagens relativas das diferentes maneiras de se dividir
um plano.
A ordem
em que as partes do
planejamento são apresentadas aqui, não
representa, necessariamente, a ordem na
qual elas devam ser
desenvolvidas. Lembrem-se de que o
conjunto de decisões que o
planejamento envolve não pode ser subdividida
em subconjuntos independentes. Portanto, as partes de um
plano e as fases do processo de
planejamento que produza aquelas partes devem interagir. A
ordem em que apresento
as partes, portanto, reflete apenas a minha
opinião sobre a ordem
em que geralmente é
mais conveniente começar
a pensar sobre elas.
As partes
são apenas identificadas neste ponto, pois cada uma será discutida posteriormente em capítulos
específicos.
1. Fins. Especificação de objetivos e metas.
2. Meios.
Escolha de políticas, programas, procedimentos e práticas através
dos quais se tentará atingir os objetivos.
3. Recursos.
Determinação dos tipos e quantidades de recursos necessários, como eles devem
ser gerados ou
obtidos e como eles devem ser alocados às
atividades.
4. Implantação. Determinação de procedimentos para tomada de
decisão e de uma maneira de organizá-los para
que o plano possa ser
executado.
5. Controle.
Determinação de procedimentos para antecipar ou detectar erros no plano
ou falhas na sua
execução e para prevenir ou corrigir continuamente
estes erros e estas falhas.
Estas são as
partes que, na minha
opinião, um plano deveria
conter. Muitos
planos não as contêm. Quais dessas partes um
plano contém e a atenção relativa
que elas recebam é, em grande
parte, uma questão de filosofia dos que planejam.
FILOSOFIAS DO PLANEJAMENTO
Na medida
em que os planejadores se tomam mais autoconscientes e conhecedores do processo no
qual eles estão envolvidos, certas atitudes,
conceitos, filosofias, ou o que pode
até ser
chamado de estratégia do planejamento passam a ser
notadas pelos estudiosos do processo.
Parece haver três filosofias
dominantes. Elas são
apresentadas aqui em sua forma "pura", ficando
claro que quase
todo planejamento envolve uma mistura dessas três filosofias, apesar de ser dominado
por um desses três
pontos de vista que chamo
de satisfação, otimização e adaptação. Estes nomes
não são muito
bons porque suas
implicações são vagas e
ambíguas, porém infelizmente não
consegue arranjar nomes melhores,
Não me oponho, portanto, à substituição deles por outros
nomes. O ponto
de vista que mais
prevalece - o da satisfação - é discutido primeiro e o que é
menos utilizado - o da adaptação - por
último.
Satisfação
É um
termo extremamente útil, criado por
Herbert A. Simon, que designa os
esforços para
se atingir algum nível de satisfação, mas
não necessariamente para exceder este nível. Satisfazer é, pois, fazer "bastante
bem", mas
não necessariamente "tão bem quanto possível". O nível de
realização que define "satisfação" é
aquele que simplesmente
satisfaça o tomador de decisões.
O planejamento
satisfatório começa com o
estabelecimento de objetivos e metas que se
acredita, sejam tanto viáveis quanto
desejáveis. E a atribuição dessas duas
propriedades aos objetivos e metas geralmente
baseia-se num consenso entre os planejadores.
Objetivos e metas
são geralmente formulados pelos planejadores do satisfatório em
termos de medidas de desempenho comumente utilizadas (por ex. lucro ou rentabilidade), ou em
termos qualitativos (por ex. boas relações com os
empregados). De uma maneira radical
poder-se-ia dizer que o planejador do satisfatório parece operar
com base no princípio de que, se não se
pode medir aquilo que se
queira, deve-se então querer aquilo
que se possa medir ou então aquilo
que não se queira medir.
Por exemplo, para a
maioria dos administradores, o objetivo de anunciar é
aumentar vendas. Entretanto, o aumento de
vendas produzido pela propaganda
é difícil (senão impossível) de medir.
Lembrança das mensagens, o número de "impressões" que
elas deixam ou mudanças de "atitudes" que
elas produzam são, aparentemente, fáceis de medir e, portanto, o
planejador satisfatório de marketing tende a definir objetivos de
propaganda em termos de
lembranças, impressões e atitudes, em
vez de em termos de
aumento de vendas.
É muito
comum o planejador do satisfatório estabelecer
apenas algumas metas simples;
por exemplo, aumentar os
rendimentos anualmente em 10
por cento ou a
parcela de mercado anualmente em 5
por cento. Ele,
normalmente, não se preocupa com a maneira de
mediar conflitos que
possam surgir entre tais
metas; por exemplo, se
uma parcela específica de mercado e um
determinado lucro não podem
ser obtidos simultaneamente a curto prazo, o
planejador do satisfatório provavelmente
não fornecerá à administração uma base para determinar o equilíbrio entre
estes dois
objetivos.
O planejador do satisfatório geralmente começa por
estabelecer objetivos e metas. Como
ele não procura
estabelecê-los tão "elevados" quanto
possível, mas apenas
"satisfatoriamente elevados",
ele tem que rever estes objetivos
e metas, somente quando
eles não se tornam viáveis. Estabelecidos os objetivos e metas o planejador procura apenas
uma maneira viável e aceitável de
tentar atingi-los; novamente ele
não procura a melhor
maneira possível.
A orientação
deste tipo de planejador se parece
muito com a noção
política da "arte do possível". No
que raramente é um
procedimento sistemático, ele tenta
"maximizar" viabilidade, conceito este
que ele raramente
define explicitamente. Ele tenta fazer isso da seguinte
maneira: a) minimizando o número e a magnitude dos desvios de práticas e políticas atuais; b) especificando pequenos aumentos de recursos necessários; e c) não fazendo mudanças substanciais na estrutura organizacional (pois essas mudanças geralmente encontram oposição daqueles que são
afetados).
No seu
esforço para
obter um
conjunto viável de procedimentos, programas e políticas, os planejadores do satisfatório raramente formulam e avaliam sistematicamente muitas
alternativas porque qualquer
conjunto viável lhes
satisfará. Geralmente, eles estão mais
preocupados em identificar antigas deficiências, produzidas por políticas
atuais, do que em explorar oportunidades
futuras. Portanto, em certo
sentido, o planejador do satisfatório tende a enfrentar o futuro,
atento ao passado.
Em termos de
planejamento de recursos, a maior parte dos
planejadores do satisfatório está
preocupada com um recurso:
dinheiro. Sua
orientação é dominada pelos aspectos
financeiros do negócio. Muito raramente
eles dão atenção detalhada a recursos humanos, instalações, equipamentos, materiais e serviços. Não
fazem isto porque acreditam que, se há dinheiro
disponível, qualquer que for
o tipo de recurso exigido, pode ser
adquirido quando necessário. Isto,
porém, pode trazer dificuldades
quando é necessário algum
tempo para se
adquirir ou
produzir os recursos necessários; por
exemplo, às vezes leva-se muito tempo
para se formar
pessoal treinado na própria companhia.
Os planejadores do satisfatório refletem uma preocupação predominante dos executivos com
finanças. Eles enfatizam projeções ou
extrapolações de tendências financeiras e ou
de orçamentos atuais. Previsões financeiras e orçamentos são
partes fundamentais do planejamento, mas elas tendem
a dominar o modo de pensar dos
planejadores do satisfatório e a minimizar ou excluir outras partes
essenciais do processo do planejamento.
Eles tentam evitar mudanças
organizacionais porque elas, muitas vezes, causam controvérsia. Seus planos
raramente exigem uma reorganização da empresa
para a qual se
planeja. Eles preferem não "mexer com o barco".
Planejadores orientados para
esta filosofia do satisfatório geralmente lidam com apenas uma
previsão do futuro, e mesmo
assim como se esse
futuro fosse virtualmente certo de ocorrer. Dai
eles elaboram planos pouco
flexíveis. Raramente lidam explicitamente com possibilidades e muito menos
com probabilidades. Eles presumem que se ocorrer o
inesperado, a organização é capaz de lidar com ele.
Portanto, raramente montam um sistema
formal de controlar um
plano depois de sua
implantação.
O enfoque
satisfatório ao planejamento é geralmente defendido com o argumento
difícil de refutar de que é
melhor produzir um
plano viável que
não é ótimo,
do que um plano ótimo que
não é viável. Mas,
esse argumento se baseia na crença de que a
idéia de viabilidade não
pode ser incorporada à idéia de otimização. Isto não é
verdade. É possível tentar elaborar o melhor
plano viável Otimização pode (e deve) ser definida de
maneira a levar a viabilidade
em consideração, apesar de até os
planejadores otimizantes raramente
tentarem fazer isto. Tal
esforço tem a vantagem de forçar o
planejador a examinar de maneira crítica
os critérios de viabilidade - critérios que
raramente são explicitados no processo
de planejamento do satisfatório. Além do mais, a
afirmativa de que "um
plano viável que
não é ótimo é
melhor que um
plano ótimo
que não é viável",
deveria ser contrabalançada por outra
afirmativa igualmente poderosa de que
"a execução incompleta de um
plano ótimo
pode ser melhor que a
execução completa de um
plano que é apenas
satisfatório ".
Não é de se surpreender
que um planejamento
satisfatório raramente leve a
uma mudança radical do passado. Ele,
geralmente, produz planos conservadores que dão continuidade de maneira confortável à maioria das políticas atuais, corrigindo apenas deficiências óbvias. Tal tipo de
planejamento, portanto, interessa a organizações que
estão mais preocupadas com sobrevivência do que com
desenvolvimento e crescimento.
A deficiência
mais séria desse tipo
de planejamento é que ele
raramente aumenta a compreensão do sistema para o qual se está planejando ou do processo de
planejamento em si. O
planejador do satisfatório tende a
usar somente conhecimento e compreensão disponíveis do sistema; raramente ele se
envolve em pesquisa que se
destine a aumentar tal conhecimento
e compreensão. Seu planejamento
não é orientado para a pesquisa.
Por esta e por outras razões seu
planejamento geralmente requer menos tempo,
dinheiro e capacidade técnica do que
os outros tipos de planejamento. Isto, é claro, é
uma de suas principais atrações.
Otimização
Neste segundo
tipo de planejamento faz-se um esforço
não apenas para fazer bastante bem, mas tão bem quanto possível.
Um enfoque otimizante ao planejamento tem sido possível' em
grande parte graças ao
desenvolvimento e uso de modelos
matemáticos de sistemas para os quais se está
planejando. Para aqueles que
não estejam familiarizados com tais
modelos, uma breve discussão de
sua origem, natureza
e usos pode ser útil.
Modelos e Otimização.
A experimentação é uma parte essencial
da ciência, mas sistemas
grandes (sistema solar, empresarial ou
governamental) não podem ser levados para dentro de um
laboratório, e experimentos não
podem ser conduzidos neles como um
todo, dentro de seu
ambiente natural. Portanto, desde
que a experimentação seja necessária para se conseguir conhecimentos e controle de tais
sistemas, e como não pode
ser conduzida neles, os testes devem ser
feitos em outra coisa que
não o sistema em
estudo. É claro que
para que a
experimentação leve a um conhecimento
importante para o sistema,
ela deve ser
conduzida em algo que se pareça com o sistema
em estudo. Modelos são representações de sistemas que
sirvam a este propósito. Eles podem
ser representações físicas (corno os
modelos de aviões em
túneis de provas ou de
navios em tanques
especiais), representações gráficas (como
diagramas ou gráficos),
ou simbólicas (como equações
matemáticas).
Uma experiência
feita num modelo de
sistema é chamada de simulação. Quando são
usados modelos simbólicos, entretanto, é multas vezes
possível determinar quais
seriam os resultados de uma experiência sem
realmente realizá-la, através de processos dedutivos (como
por ex., análise matemática). Isto pode freqüentemente economizar
muito tempo e esforço
e pode dar resultados muito
mais precisos do que
aqueles que possam ser obtidos
pela simulação.
O uso de
modelos simbólicos é fundamental na metodologia de Pesquisa Operacional.
Estes modelos variam muito em
tamanho, forma
e complexidade; mas como todos
eles lidam com processos de
tomada de decisão, todos
têm alguma estrutura em comum.
Um modelo de
decisão geralmente tem duas partes: uma função objetiva e um conjunto de
uma ou mais restrições.
Uma função
objetiva é uma equação da seguinte forma:
desempenho do sistema (P) =
alguma relação entre (f ) variáveis
controláveis (C) e variáveis
fora de controle (U), ou
mais simplesmente:
P = f (C, U)
A medida do
desempenho do sistema é aquela que o administrador deseje maximizar ou
minimizar (isto é otimizar).
Quando objetivos múltiplos estão envolvidos, uma medida única de
desempenho ainda pode ser possível. As teorias do valor
e da decisão são conhecimentos usados no desenvolvimento de medidas apropriadas de desempenho. Tal
desenvolvimento pode ser a parte
mais difícil no processo de
pesquisa. Mas sem
um critério explícito para a avaliação
de práticas e políticas alternativas, como pode uma pessoa saber se ela está
desempenhando bem, quanto mais
assegurar-se de que está se saindo
tão bem
quanto possível ?
As variáveis
controláveis são as que o tomador de decisões pode manipular:
por exemplo, a quantidade de
dinheiro a ser investido
em várias atividades empresariais, preço e tamanho
de produtos e
localização de fábricas. As variáveis fora
de controle são aquelas que
não estejam sujeitas ao controle do tomador de decisões, mas
que, mesmo assim,
afetem o desempenho do sistema: por
exemplo, as condições atmosféricas, o desempenho da economia, o comportamento dos concorrentes, desenvolvimentos tecnológicos e as preferências dos consumidores.
A segunda
parte de um modelo de decisão geralmente consiste em uma ou
mais afirmativas simbólicas, nas quais os limites
do controle do tomador de decisão são
precisamente definidos; por
exemplo, se num problema de orçamento uma empresa tem
que alocar
fundos para
cinco divisões ou
departamentos, então a soma destas
cinco alocações de verba deve ser igual a, ou
maior que, zero, e
não pode exceder a quantia
total de dinheiro disponível na
companhia.
Tais modelos
representam tanto a decisão quanto o
sistema afetado por
ela. Relaciona o desempenho do sistema com o
que o tomador de decisões pode fazer.
Estando o modelo de
decisão construído, o problema do pesquisador é encontrar os
valores das variáveis controláveis, as quais, sujeitas às restrições e sob
condições fora de controle
especificadas, podem otimizar o desempenho do sistema. Esses
valores otimizantes das variáveis controláveis são procurados ou através de
simulação ou de análise dedutiva. Em
ambos os processos, os computadores têm tido um papel importante. Eles
possibilitam ao pesquisador lidar com
modelos extremamente complexos, sem o
que, isto não seria
possível.
Um exemplo
muito simples de elaboração de um
modelo é dado
no apêndice deste livro, contendo uma descrição não-técnica de um modelo que foi desenvolvido para otimizar investimentos em
pesquisa e desenvolvimento.
Voltando à Otimização. Corno foi
observado antes, o otimizador tenta formular os
objetivos da empresa em
termos quantitativos e reuni-los numa única medida de
desempenho empresarial total. Ele pode
não ter
êxito completo nessa tarefa, mas
geralmente consegue traduzir objetivos
qualitativos formulados vagamente em
termos quantitativos mais precisos.
Além do mais, ele
consegue muitas vezes transformar diversas metas em
medidas em uma escala
única (geralmente monetária) e pode, portanto, combiná-las numa única medida
geral de desempenho. Infelizmente, o otimizador tende a ignorar metas
que ele não possa
quantificar. .Isso pode distorcer o
valor, de seu trabalho e produzir uma insatisfação justificada nós administradores, os quais devem combinar
resultados quantitativos com seus
próprios julgamentos qualitativos sobre problemas
importantes que não foram
levados em consideração.
O planejador otimizante procura as melhores políticas, programas, procedimentos e práticas disponíveis, através do uso
de modelos matemáticos. O êxito de tal
planeja- dor depende de quão completa e
exata é a representação do sistema em
seu modelo e
de como ele extrai soluções do modelo
que foi elaborado. Suas possibilidades são no momento
limitadas, pois ele não pode
construir um
modelo que
represente todos os aspectos de um
sistema empresarial total. Ele tem
que construir modelos de
partes e, em conseqüência
da complexidade ainda impenetrável de algumas delas, ele não pode
construir modelos de todas essas partes. Portanto, tende a planejar
apenas para
aquelas unidades ou aspectos de
um sistema para o qual ele pode
construir e resolver
modelos. Algumas vezes seu
comprometimento com o enfoque que
ele chama de "racional" justifica a definição de Ambrose. Bierce deste termo: "isenta
de quaisquer desenganos, exceto aqueles decorrentes da observação, experiência e reflexão" ( de The Devil's Dictionaire,
1911).
Mesmo os esforços
mal sucedidos no sentido de se desenvolver
planos realmente ótimos
quase sempre produzem um subproduto
valioso: uma compreensão mais
profunda do sistema para o qual se planeja. Infelizmente, essa compreensão nem
sempre é comunicada com
êxito aos administradores envolvidos.
O planejador otimizante tenta: a) minimizar os
recursos necessários para se obter um nível específico de
desempenho; b) maximizar o desempenho que
pode ser obtido com recursos
que estão (ou que se
espera que
estejam) disponíveis; ou c) obter o melhor equilíbrio de custos (recursos
consumidos) e benefícios (desempenho). Considerações explícitas sobre todos os
tipos de recursos são
mais comuns entre
planejadores otimizantes do que
entre planejadores do satisfatório, apesar de que os
otimizantes também tendam a enfatizar recursos
financeiros. Especialistas em Pesquisa
Operacional desenvolveram modelos (e a maneira de resolvê-los) que podem e têm sido utilizados para otimizar o tamanho e a localização de instalações, distribuição de materiais e bens
para e entre
estas instalações, e delas para os consumidores,
renovação de equipamento e políticas de manutenção, decisões de comprar
ou fazer e
muitas outras decisões que sejam importantes no planejamento de recursos. Eles
podem fazer isto mesmo
quando a demanda futura é
incerta; isto é, quando ela
só pode ser
prevista com margens de
erro.
É provável
que o planejamento de instalações, equipamentos, materiais e serviços será tratado de maneira mais
adequada pelos planejadores otimizantes
do que o planejamento de pessoal. Técnicas quantitativas para
lidar com
pessoal ainda não estão
bastante desenvolvidas, mas estão sendo aperfeiçoadas.
Planejadores otimizantes raramente tratam de maneira explícita da estrutura organizacional porque modelos
deste aspecto de uma empresa apenas
começaram a ser desenvolvidos. Por "estrutura
organizacional" quero dizer a maneira pela
qual o trabalho feito
em uma organização é dividido em partes
(por ex., por funções
como produção
e marketing ou por
tipo de produto ou
por área geográfica)
e como o trabalho é atribuído às partes da organização. A estrutura se reflete não apenas nas
responsabilidades dadas às partes da organização, mas
também nas medidas de desempenho aplicadas a elas, pois estas definem os
objetivos das partes. O objetivo do planejamento organizacional é montar uma organização
que possa efetivamente atingir
seus objetivos globais e, especificamente, executar os planos
que sejam feitos.
Atualmente, o máximo
que pode ser
feito é otimizar estruturas
complexas em relação a problemas muito
simples ou estruturas
simples em relação a
problemas complexos. Por
enquanto, não podemos otimizar
estruturas complexas em relação a
problemas complexos. Por
exemplo, podemos determinar como
dividir responsabilidades sobre os estoques entre
as funções de compra e venda
numa organização relativa- mente simples
como uma loja de departamentos. Mas a divisão ótima desta responsabilidade sobre o estoque
de produtos acabados num processo
complexo integrado verticalmente (como numa companhia petrolífera) está além de nossas possibilidades atuais.
Quando apenas
técnicas quantitativas de otimização são
inadequadas para produzir a melhor
estrutura organizacional, elas podem ser combinadas
com o bom-senso para produzir uma estrutura que
seja aproximadamente ótima.
Em geral,
tentativas de otimizar estrutura
requerem uso extensivo de julgamentos qualitativos. Muitos otimizantes preferem evitar tais
julgamentos e, portanto, ou
omitem este importante aspecto do
planejamento ou o transferem para
outros, cujo resultado
não integram aos seus próprios.
Até os mais
detalhados planos otimizantes podem
ser sabotados por muitas pequenas ações
(ou omissões) tomadas por
indivíduos que, individual
ou coletivamente, não estão motivados para
agir de uma maneira que seja
compatível com os objetivos
estabelecidos; por exemplo, já vi
administradores e outros funcionários de uma unidade, que
estava planejada para ser
dissolvida após um certo período de tempo,
tornar atitudes que
aumentaram a dificuldade de acabar com as
suas operações., A implantação de um plano
não pode nunca ser mecanizada.
Depende sempre da boa-vontade e da
cooperação de indivíduos e grupos dentro da
organização. Muitos planejadores otimizantes tendem a tratar organizações e
suas partes como se
elas fossem totalmente programadas; elas não o
são. Portanto, a atenção para a motivação
dos indivíduos e grupos dentro da
organização deveria ser (mas raramente é) parte essencial
do seu planejamento. Onde não existe
motivação apropriada, é responsabilidade do planejador fazer com
que ela seja desenvolvida.
Finalmente, planejadores otimizantes podem construir e constroem sistemas de controle capazes
de detectar. e corrigir
erros cuja possibilidade de ocorrência foi prevista; isto
é, eles criam controles que
determinam quando a organização não
conseguiu atingir suas expectativas, mas não determinar quando
alcançar essas expectativas constitui um fracasso
(isto é, quando a organização falhou em explorar o inesperado). Oportunidades que não foram
previstas geralmente batem à
nossa porta apenas uma
vez. Não abrir a porta é um
erro de omissão.
Ação incorreta em
relação a oportunidades antecipadas é desempenho inadequado. Controles otimizantes são geralmente
dirigidos apenas contra o segundo.
Nem tudo
que pode acontecer pode ser previsto. O número de
coisas inesperadas que acontece é muito grande
para ser controlado
por uma unidade centralizada, tal como os
planejadores otimizantes geralmente
desejam. Todas as partes da organização deveriam ser
capazes de exercer autocontrole
e de responder eficazmente ao inesperado, mesmo quando
não controladas de cima.
Resumindo: as técnicas de otimização têm sido, em geral,
mais úteis em planejamento
tático do que em
planejamento estratégico. Essas técnicas são
atualmente aplicadas apenas a alguns
aspectos do planejamento estratégico. Elas têm utilidade razoável, a
menos que o custo de
utilizá-las corresponda à omissão dos aspectos do planejamento aos quais elas
não são ainda
aplicáveis. Um planejamento estratégico global ótimo está
além das nossas capacidades atuais, mas
um planejamento que
otimize partes de um plano, e
integre estas às outras partes
que foram planejadas por outras técnicas que
não as de otimização, pode ser
extremamente útil. Em outras
palavras, um processo de planejamento que
empregue, onde for possível, otimização quantitativa, e onde for necessário, satisfação qualitativa, provavelmente produzirá resultados melhores do que
o planejamento somente satisfatório
ou somente
otimizante.
Adaptação
Este tipo de
planejamento é, muitas vezes, chamado de inovador. Ele
não é, porém, muito
utilizado, porque ainda não
desenvolvemos um conceito claro e
global dele nem uma metodologia sistematizada de executá-lo. Portanto, ele é
mais uma aspiração do que
uma realidade. Entretanto, a adaptabilidade pode ser utilizada em
organizações, numa escala muito
maior do que se acredita atualmente.
Planejamento de adaptação tem
três partes principais:
1. Baseia-se na crença de que o
principal valor do planejamento não
está nos planos que
ele produz, mas sim no
processo de produzi-lo. De fato, o slogan do planejador da adaptação é que
"o processo é o nosso produto
mais importante". Depreende-se disto, portanto, que o
valor do planejamento para os
administradores está, principalmente, na sua participação no processo
e não no uso dos resultados do planejamento. Conclui-se daí que o planejamento eficaz não pode
ser feito
para uma organização: ele
deve ser feito
pelos administradores responsáveis.
Este ponto de vista está bem expresso na seguinte observação feita
por Eric Trist (1968, pág.
26):
"Michel Crozier ... que está desenvolvendo um estudo
sociológico da tomada de decisão do plano
Ve demonstrou que o
efeito mais importante
do planejamento francês não está
tanto no fato de se atingir as
metas, mas no aprendizado social das diversas comissões que
atuam na elaboração, implantação e revisão do plano."
2. Quase
toda a necessidade atual de planejamento provém da falta de administração e controles eficazes. É o próprio
homem que produz a maior parte da
confusão que o
planejamento tenta eliminar
ou evitar.
Portanto, o principal objetivo do
planejamento deveria ser o de desenvolver uma
organização e um sistema de
administrá-la que minimizará a
necessidade futura de planejamento retrospectivo - isto é, planejamento dirigido para o
objetivo de eliminar as deficiências produzidas por decisões do
passado - e fazer isto
através da redução da possibilidade de
tais deficiências ocorrerem. O objetivo é não
eliminar o planejamento prospectivo, isto é, o que se destina a
criar um
futuro desejado.
3. Nosso
conhecimento do futuro pode ser dividido
em três tipos:
certeza, incerteza e ignorância;
cada um requer tipos
diferentes de planejamento: compromisso, contingência e adaptação.
a. Em
primeiro lugar, há certos
aspectos do futuro sobre os
quais nós podemos ficar
virtualmente certos. Há certas mudanças futuras que podem ser praticamente
inevitáveis e há certas coisas
que seguramente não
mudarão; isto é, aspectos do ambiente que
permanecerão estáveis. Para dar alguns exemplos
simples, a porcentagem de homens
e mulheres na população pode não mudar, mas o número de
jovens de 21 anos nos
Estados Unidos pode mudar de agora
até 1980. Entretanto, até
número pode ser calculado quase
que com certeza. Os
aspectos relativamente certos do futuro
podem (e freqüentemente são) difíceis, de identificar. Muita
pesquisa pode ser necessária para descobri-los. Eles se tomam multas vezes,
óbvios apenas retrospectivamente; por exemplo,
apenas agora está se tomando óbvio que haverá
muita exigência para se medir graus de poluição do ar e da
água.
Com relação a
estes aspectos do futuro, sobre os
quais é possível estar virtualmente certos, podemos elaborar
um planejamento de compromisso. Mas, mesmo
aqui a possibilidade de erro deve ser levada em
consideração por meio da
elaboração de controles apropriados. É necessária uma atualização contínua das suposições daquilo que é inevitável
ou daquilo que é imutável.
Além do mais, a prudência manda
que compromissos não
sejam nunca assumidos antes do necessário para se atingir os objetivos desejados. Nem sempre é
melhor ser o
primeiro a tentar explorar uma nova
oportunidade.
Podemos, de certa
maneira, dizer
que o bom planejamento
a longo prazo envolve, entre outras coisas: 1) descobrir o
inevitável, 2) determinar como
explorá-lo, e 3) receber crédito por
tê-lo descoberto.
b. Em
segundo lugar, há certos
aspectos do futuro sobre os
quais não podemos estar
relativamente certos, mas
que podemos estar razoavelmente certos de quais
são as possibilidades deles ocorrerem;
por exemplo, podemos não saber que tipo de
fonte de propulsão
eventualmente irá tomar o lugar do
motor a combustão
interna dos automóveis, mas
podemos estar razoavelmente certos de que
ou será uma máquina do mesmo
tipo, aperfeiçoada, ou uma movida a vapor ou
eletricamente, por uma bateria ou
célula de combustível. Nestes casos é necessário
um planejamento para
contingências;
isto é, deveríamos fazer um plano para cada eventualidade, de maneira que
possamos explorar rapidamente as oportunidades que se apresentem quando "o futuro se decidir".
O planejamento
para contingências é antigo nos
meios militares, mas é
relativamente novo em administração; por exemplo, no
planejamento de uma invasão militar leva-se
sempre em consideração
cada resultado possível de uma operação e são
feitos planos para lidar com
cada um desses resultados. Os planejadores militares não
esperam para ver o
que acontece para só depois planejar o
que fazer.
Eles tentam cobrir toda e
qualquer possibilidade antecipadamente,
porque o fator tempo é
fundamental quando uma possibilidade se torna uma realidade.
c. Finalmente, há
aspectos do futuro que
não podemos antecipar; por
exemplo, catástrofes naturais ou
políticas ou descobertas
tecnológicas. Não podemos nos preparar para isto
diretamente, mas podemos fazê-lo indiretamente, através de planejamento adaptável. Tal planejamento
se destina a montar uma organização
e um sistema para administrá-la,
capaz de detectar rapidamente desvios daquilo que é esperado e responder
a eles eficazmente. Portanto, o planejamento adaptável consiste em inserir adaptabilidade
e flexibilidade numa organização.
A Natureza da
Adaptação. Adaptação é a resposta a
uma mudança (estímulo) que
reduz de fato ou potencialmente a eficiência do comportamento de um sistema; uma
resposta que evite que
essa redução ocorra. A mudança pode
ser interna
(dentro do sistema) ou
externa (no seu ambiente).
Por exemplo, uma mudança no pessoal administrativo que reduza a eficiência empresarial seria um estímulo
interno, mas uma mudança na política de preços de um
concorrente seria um estímulo
externo.
Respostas adaptáveis são
também de dois
tipos. No primeiro, na adaptação
passiva, o sistema muda
seu comportamento para ter um desempenho mais
eficiente dentro de um
ambiente em mutação
(por ex., uma pessoa colocando um
agasalho quando começa a
sentir frio
ou uma companhia reduzindo seus custos e
preços quando a concorrência faz o mesmo); no segundo tipo, na
adaptação ativa, o sistema muda o
seu ambiente para que o seu
próprio comportamento, presente
ou futuro, se tome mais eficiente
(por ex., ligando o aquecimento quando se começa
a sentir frio
dentro de uma casa ou
conseguindo alguma legislação para evitar reduções de
preço pelos concorrentes). (Ver F. E.
Emery, 1967, para uma discussão mais
detalhada dessa distinção.) Estes dois tipos de adaptação podem, é claro, ser
combinados.
Mudanças no ambiente podem ser rápidas e
de curta duração (por ex.
na demanda de um produto de
um dia para o outro), ou
lenta e de longa duração
(por ex., lançamento de um
novo produto
por um concorrente).
Uma organização adaptável deveria ser capaz de lidar com
ambos os tipos. Vejamos o que é necessário para isso.
Obviamente, necessitamos flexibilidade nas instalações, equipamentos e pessoal. Por
exemplo, a direção do fluxo de
tráfego no terceiro Lincoln Tunnel, que liga
Nova Jersey a cidade de Nova
Iorque pode ser revertida dependendo da
mudança na demanda da manhã
para a tarde.
O mesmo pode ser feito nas duas
pistas centrais de uma via
expressa em Chicago. Tal
flexibilidade pode ser planejada freqüentemente, até com
economias consideráveis. Três túneis,
um dos quais reversível, podem dar
vazão ao mesmo tráfego
que quatro túneis de
mão-única, em virtude da assimetria do
trânsito para
dentro e para
fora de Nova York pela
manhã e à tarde. De maneira ideal,
gostaríamos de ter instalações que
pudessem servir a qualquer propósito e
pudessem contrair e expandir, dependendo da demanda. Tal
flexibilidade só é possível até
certo ponto.
Portanto, a demanda em
si deve ser,
pelo menos,
parcialmente controlada.
Controle de demanda a
curto prazo e a longo
prazo geralmente requer diferentes enfoques. Consideremos, em primeiro lugar, o problema a longo
prazo.
Um fabricante de
máquina-ferramenta estava sujeito a flutuações
tão grandes na demanda quanto
na proporção de dois para um em
anos sucessivos. Isto
não permitia o uso eficaz de
instalações e pessoal. A companhia procurou outro produto
altamente cíclico, mas contracíclico, que exigisse a mesma tecnologia
que ela já usava.
Encontrou tal produto na forma de
equipamentos para construção de estradas e entrou no negócio. Assim
fazendo, a companhia reduziu as variações
anuais na produção para apenas uma pequena fração
do que essas variações tinham sido
anteriormente.
Assim, uma maneira de
se obter controle sobre o
futuro é reduzir as variações esperadas nas partes essenciais do sistema ou de
seu ambiente.
Examinemos outra
companhia que produzia matéria-prima que era
utilizada em mais de três
mil formas diferentes. Destas, aproximadamente 10 por cento eram
responsáveis por todos os
lucros e pela maior
parte do volume de negócios. Pequenos pedidos
para o grande
número restante de produtos, de pequena saída e
não-lucrativos, levavam a interrupções
freqüentes da produção, cuja
programação era dirigida para
lotes contínuos dos itens lucrativos
de muita saída. A gerência de marketing recusava-se a retirar da linha de
produção os itens não-lucrativos de pouca saída,
ou a aumentar
os seus preços até
mesmo para
cobrir os custos. Fia
argumentava que isto desagradaria àqueles compradores que
eram também grandes consumidores dos itens lucrativos
de muita saída e a companhia correria o risco de perder
esses clientes.
O enfoque de
um planejador otimizante para este
problema consistiu em se construir
um modelo do
sistema produção-estoque-vendas e derivar dele uma maneira de se programar a
linha de produção de forma a atender à demanda -
uma maneira que minimizou o total dos custos
de produção, de manutenção e de falta de estoques. As melhorias conseguidas foram
significativas, mas pequenas.
Um planejador que
adota a filosofia da adaptação tomou um enfoque
diferente. Ele descobriu que eliminando-se 4 por cento dos
itens menos lucrativos
da linha de produção, poderia
reduzir os custos de produção e,
assim, aumentar os lucros de
uma quantia igual à que o
aperfeiçoamento do planejador otimizante tinha obtido. Ele se concentrou, então, no sistema de marketing, e não no de produção, e viu
que os vendedores recebiam um salário-base, mais uma percentagem sobre o valor de
suas vendas. Isto
levou-o a montar um novo plano de incentivo aos vendedores. Um
plano que era voltado
para lucro e não para volume. Passou-se a não pagar comissão sobre
vendas dos itens não-lucrativos e a pagar uma mais
alta sobre os itens
lucrativos. O plano foi feito
de tal maneira que, se
os vendedores continuassem a vender a mesma
combinação dos itens que
eles vendiam antes, seus
rendimentos não mudariam.
No primeiro ano de execução
do plano, quase a metade
dos itens não-lucrativos tiveram
suas vendas praticamente cessadas e as vendas dos itens
lucrativos aumentaram substancialmente.
O planejador otimizante geralmente aceita a estrutura do sistema como
ela é e procura uma alternativa de ação
que resolva o problema da melhor maneira
sem mexer
nela. O planejador adaptador,
por outro lado,
tenta mudar o
sistema de maneira a que
um comportamento mais eficiente
suja "naturalmente".
O princípio de
controle usado no último exemplo é da
maior importância no planejamento adaptável, porque ele
fornece um meio eficaz de
se lidar com
variações num sistema tanto a curto
quanto a longo prazo.
Envolve a motivação dos participantes do sistema para agir de uma maneira
que seja compatível com
os interesses da organização como
um todo e faz isto
dando incentivos que tomem os objetivos individuais e organizacionais mais compatíveis.
Examinemos este
princípio do ponto de vista do
controle de tráfego e como
ele pode ser
adotado para levar as
pessoas a usarem os sistemas de transporte de maneira a atender
mais eficazmente aos seus próprios
interesses e aos da comunidade. Em
primeiro lugar, as taxas
de pedágio cobradas em pontes,
túneis e vias expressas, pelo
menos durante os períodos de maior movimento,
poderiam ser cobradas inversamente proporcionais ao
número de passageiros num carro. Mais
especificamente, o pedágio se basearia no
número de lugares vazios
num carro de passageiros. Assim, um
carro com dois lugares ocupado
por dois
passageiros pagaria um pedágio mais baixo do
que um carro
com seis lugares e
apenas dois,
três, quatro ou
cinco passageiros. Um
carro com seis
lugares e três passageiros
pagaria um, pedágio mais
baixo do que um
com apenas dois. Isto incentivaria uma melhor ocupação
de todos os carros e um
maior uso de carros
menores.
Em segundo
lugar, as taxas de pedágio poderiam
variar com a
demanda. Quanto maior a
demanda para
uma rodovia, maior as taxas
cobradas. Portanto, as taxas aumentariam durante as horas
de muito movimento e diminuiriam quando o movimento fosse menor. Isto
produziria uma utilização mais constante
dos sistemas viários.
O pensamento
adaptável, é claro, não é novo, mas o planejamento que
esteja sistemática e primordialmente voltado para
se produzir organizações adaptáveis o é. Apenas começamos a explorar
as possibilidades de tal planejamento. Os que assim fazem
mais eficazmente têm maiores possibilidades de desenvolver e explorar as
potencialidades de suas organizações.
CONCLUSÃO
Atualmente, o planejamento
satisfatório é o único dos três
enfoques ao qual, geralmente, podemos aderir
de forma completa.
Não podemos otimizar completamente e podemos apenas começar a tornar um
plano adaptável. Entretanto, podemos levar
nosso esforço de planejamento às fronteiras da metodologia e, talvez, até
ultrapassar estas fronteiras. O melhor que podemos fazer, no
momento, é uma mistura dos três
enfoques. Este não é o
único ramo de atividades no qual se exigirá a união de
métodos científicos com
bom-senso e de tecnologia com julgamento subjetivo.
Quanto mais o
planejamento empresarial passa do enfoque
satisfatório para o adaptável, maior a necessidade de métodos, técnicas e instrumentos científicos. A importância das ciências administrativas e da tecnologia do computador aumenta na medida em
que saímos fora do conceito
tradicional de planejamento convencional. Isto não
quer dizer
que a necessidade da experiência e da participação dos administradores diminui; pelo contrário,
aumenta. Apesar de poder ser mais fácil para os administradores que estão planejando fazê-lo de maneira satisfatória, é mais difícil
para os especialistas em
ciências administrativas desenvolver um
planejamento adaptável sem a participação de administradores.
O planejamento
otimizante exige uma melhor compreensão do comportamento da organização do que o planejamento satisfatório. O planejamento adaptável requer um conhecimento
ainda maior do que o
otimizante. Como os planejadores
que adotam o enfoque adaptável operam em grande
parte manipulando incentivos, e como procuram compatibilizar
objetivos individuais, de unidades e coletivos, eles,
então, precisam conhecer e se adaptar a
valores da organização corno
um todo, de suas
partes e dos indivíduos que a
compõem e, também, das organizações e dos indivíduos no seu ambiente
cujos comportamentos afetam o sistema para o qual se planeja. O planeja- mento adaptável exige
ainda uma compreensão da dinâmica dos valores: a maneira pela
qual os valores se relacionam às necessidades individuais e à sua satisfação;
como as mudanças em necessidades
alteram valores; e o que produz mudanças em necessidades
individuais. Portanto, a compreensão do comportamento individual e coletivo, necessária para o
planejamento adaptável, é
consideravelmente maior do que a compreensão que
muitos planejadores e administradores possuem atualmente.
Um planejamento
eficaz exige uma estreita colaboração de esforços entre
especialistas criativos e administradores no sentido de resolver os
muitos problemas difíceis envolvidos. Tal planejamento
é caro e demanda tempo.
Mas, provavelmente, não há outra
atividade numa companhia que
possa dar tanta rentabilidade; e provavelmente não há outra
atividade que possa se tornar
tão dispendiosa se se deixar de
fazê-la.
Ackoff, Russel L. Planejamento Empresarial. Rio de
Janeiro, Livros Técnicos
e Científicos, 1978, p
1-14.