Todos iguais, todos iguais... Alguns mais iguais que os outros...
De: diniz@ufpr.br
Data: Dom, Outubro 15, 2006 8:52 am
Para: diógenes@yahoo.com.br (mais)
Diógenes e demais listeiros,
Agora que os dois militantes da lista (Moreira e Genilson) estão mais tranqüilos quanto à vitória de Lula e resolveram dar um tempo na divulgação de mentiras cínicas, fraudes estatísticas e calúnias, talvez dê para discutir de verdade. Nada melhor então do que comentar a mensagem do Diógenes.
Diógenes é o oposto deles. Para mim, ele é como o Chico de Oliveira: discordo de suas propostas, mas admiro sua coerência e honestidade intelectual. Se todos os geógrafos fossem como ele, já estariam chamando Lula de "neoliberal" para baixo desde o primeiro dia de governo. Acredito que ele vai votar em Lula, por avaliar que ele é "menos ruim". Mas sua decisão tem coerência com as coisas que ele sempre pensou, e por isso respeito a decisão. Todavia, devo manifestar algumas discordâncias em relação à comparação que ele fez entre as candidaturas Lula e Alckmin:
O GOVERNO LULA É SIM O MAIS CORRUPTO DA HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL
Por que digo isso? Porque todas as evidências e provas materiais colhidas nos mil escândalos dessa e de outras gestões petistas me levam a concluir que o PT pratica a corrupção de forma sistêmica! Ora, escândalos de corrupção ocorreram em todos os governos, mas houve apenas dois em que as investigações revelaram a existência de um amplo "esquema" funcionando sob um comando centralizado: nos governos Collor e Lula.
Mesmo nesse caso, a gestão Lula ainda ganha no que diz respeito à dimensão e ao nível de organização da "quadrilha" (como diz a Procuradoria Geral da República), pois o que houve foi a articulação de vários "esquemas" sob um comando único e partidário (mensalão, vampiros, sanguessugas). Nesse sentido, a corrupção petista é muito mais abrangente e organizada do que a dos governos passados, pois substituiu a lógica oligárquica de constituição desses "esquemas", fundada em laços de lealdade pessoal e familiar, por uma lógica partidária!!
É por isso que, embora o PC Farias tenha sido acusado de montar um "esquema" de arrecadação de propinas que permeava diversos ministérios (que eu lembre, ele foi condenado apenas por sonegação fiscal), as denúncias que já recaem sobre o PT desde meados dos anos 90 permitem avaliar que os "esquemas" petistas abrangem diversas gestões do partido, desde a escala federal (perpassando vários ministérios) até a municipal!
Em suma, na lógica oligárquica tradicional os "esquemas" são organizados em função da capacidade de cada líder político colocar compadres seus e familiares em postos chave para ter acesso a recursos e cargos, o que faz com que esses "esquemas" sejam menos abrangentes e também desarticulados entre si, ao passo que, no caso do PT, a organização é feita com base numa teia de relações de caráter partidário, motivo pelo qual pode abranger vários ministérios e os três níveis de governo! Até os fundos de pensão controlados por petistas se incluem nas denúncias!!
OK, vão dizer que denúncia é uma coisa e condenação é outra. Mas por que não podemos tecer considerações de ordem teórica para explicar os fatos que temos diante de nós com base nas evidências apontadas pelas denúncias e investigações?
PRIVATIZAÇÃO NÃO É NADA DISSO
Ao contrário do que o Diógenes diz, não há nada de errado no fato do BNDES ter financiado a compra de estatais por empresas privadas. A única fonte importante de recursos para investimentos de longo prazo no Brasil é o BNDES, e isso quer dizer que, se esse banco não financiasse as operações, os valores teriam de ser pagos à vista e, portanto, os lances seriam necessariamente muito mais baixos! Sim, pois uma empresa que faz financiamento para comprar ativos está sacando de suas receitas futuras, podendo portanto oferecer valores mais altos para a compra do que se for obrigada a pagar somente com os recursos de que já dispõe no dia do leilão!
E que negócio é esse de dizer que os juros cobrados pelo BNDES foram baixos? Ora, os juros dos empréstimos para investimento praticados pelos bancos públicos não seguem a taxa Selic, e isso justamente para favorecer os investimentos produtivos, posto que a Selic é escorchante!
A verdade é que o financiamento do BNDES para as privatizações fez com que o Estado saísse ganhando duplamente: no preço de venda e na cobrança de juros sobre os empréstimos.
TEORIA CONSPIRATÓRIA NÃO LEVA A NADA
Dizer que houve muita corrupção no governo passado da qual ninguém ficou sabendo porque as privatizações não foram investigadas a fundo é tecer uma teoria conspiratória, tipo de raciocínio que permite defender literalmente qualquer tese, por mais estapafúrdia que seja.
De fato, é da natureza das teorias conspiratórias justificar suas conclusões com a alegação de que as provas estão escondidas. Bill Clinton era um agente comunista infiltrado no governo americano, mas a extrema direita nunca conseguiu provar isso porque ele escondeu as provas! Rá, rá, rá... Os Extraterrestres estão entre nós? Claro que sim! Só que os governos escondem!
Por fim, devo dizer que, se a análise que faço com base nas conclusões do relatório da CPMI dos correios estiver correta, as privatizações da década passada tiveram um efeito moralizador sobre a política brasileira, pois reduziram enormemente o volume de cargos e recursos à disposição dos políticos tradicionais e do PT. Talvez seja por isso que Sarney, Barbalho, Lula e outros petistas lutaram tão ferrenhamente contra essa política!
Pra terminar, notem que, pelo fato das privatizações terem reduzido o tamanho do Estado, ficou mais difícil acomodar os interesses da bancada oligárquico/petista, sempre de acordo com essa leitura que faço. O escândalo do mensalão não teria vindo à tona se não fosse a disputa entre o Roberto Jefferson e alguns setores do PMDB pelo controle dos Correios. Já imaginaram como seria a briga se a Empresa de Correios e Telégrafos tivesse sido vendida nos anos FHC?
Mas os inimigos das privatizações podem ficar sossegados, pois a bancada oligárquico/petista é maioria no Congresso (a absolvição de mensaleiros que o diga!), de modo que Alckmin não poderá retomar a política de privatizações no ponto em que FHC parou.
Em Qui, Outubro 5, 2006 6:04 pm, Diógenes escreveu:
> Meus queridos...
> É claro que existe uma grande diferença entre os dois candidatos ao
> governo federal. Se por um lado um representa a continuação por mais 4
> anos de uma estratégia de governo que se orgulha de números
> "neo-liberais" (pontos da bolsa, investimentos privados,
> assistencialismos, pagamento do superávit e etc...), o outro representa a
> continuação por mais 4 anos dos valores "neo-liberais" (reformas,
> privatizações [mesmo que sejam privatizações brancas, como o Lulla faz] e
> etc...) começados por FHC e continuados pelo atual governo. Ambos já
> declararam que farão as reformas da CLT, que acabarão com o décimo
> terceiro, o descanso semanal garantido por lei corre sério risco, o
> terço do salário que vem junto com as férias cairá junto com as garantias
> da CLT. Há ainda quem pressione para que seja abolida das leis
> trabalhistas o FGTS. Mas sejamos francos, nenhum dos dois se pronunciou
> quanto a isto. Antes que me atirem pedras, tá certo, tá certo... Segundo
> o atual presidente, ele não acabará com o 13º, ele apenas será diluído em
> 12 parcelas iguais que serão pagas junto com os vencimentos mensais dos
> trabalhadores, visando melhorar as condições dos empregadores para o
> pagamento do 13º. Isso mesmo melhor a condição para os patrões. Se por um
> lado temos o governo Lulla falando, e manipulando as estatísticas para
> comprovar que temos energia de sobra, ao mesmo tempo temos este mesmo
> governo se contradizendo. Quando nos diz que o Brasil vai ter o
> "espetáculo do crescimento" a qualquer hora, ele esquece de nos informar
> que caso este espetáculo já tivesse acontecido, estaríamos tendo outro
> apagão no Brasil neste momento. Então, se estamos correndo o risco de ter
> apagão é por culpa sim deste governo que não investiu o necessário para
> evitar o risco e se não estamos tendo apagão também é por culpa deste
> governo que não produziu o crescimento que ele mesmo prevê. Está
> construindo novas represas? Que ótimo. Só é uma pena que ele tenha
> esquecido da gente, isso mesmo, de nós geógrafos. Como ele pode querer
> construir barragens no Rio Madeira e falar que é uma proposta séria!?
> Ignorar a carga de sedimentos do Rio Madeira é algo que qualquer geógrafo
> não faria. É sabido que o rio madeira carrega quase um quarto dos
> sedimentos de toda a Bacia Amazônica. Ainda tem gente querendo brincar de
> barrar as águas deste rio apenas a 18 Km de Porto Velho, ignorando a
> carga sedimentológica que fará pressão sobre a barragem. Nada mais do que
> um meandro separará a barragem da capital do Estado de Rondônia. E por
> falar em Rio, me recuso a comentar sobre a transposição do São Francisco.
> Apenas comento que ao falar sobre a questão do São Francisco, de forma
> ampla, o próprio Lulla, no debate eleitoral 2002 transmitido ao vivo pela
> Rede Bobo (digo Globo), "avisou" (foi esse o termo) ao povo brasileiro da
> necessidade dos geógrafos diante da grandeza do São Francisco, a
> complexidade do rio pedia. Dizer que não havia distribuição de livro
> didático durante o governo FHC é uma inverdade. Pode-se argumentar que
> este número tenha aumentado, mas com certeza não teve zero com valor
> inicial. Ao mesmo tempo que não dá pra falar que a corrupção no governo
> Lulla é a maior de todos os tempos. Ainda não foram totalmente explicadas
> as nossa magníficas privatizações. Empréstimos foram dados aos
> compradores a juros módicos. Empresas "falidas" se pagaram em 2 anos
> (Vale do Rio Doce). Se o FHC privatizou, o Lulla garantiu que continuasse
> privado. Assegurando que as ações judiciais visando a reversão destas
> privatizações, fossem contestadas a toda hora pelo Governo Federal. E já
> que falamos em conluios, nunca é demais perguntar sobre as
> telecomunicações. Esclareçamos, então, a participação do Sérgio Motta
> (ministro da telecomunicações na época da privatização do sistema
> telefônico) nestas privatizações, já que na época foi abafada pelo rolo
> compressor (apelido da bancada de deputados do PSDB+PFL+PMDB na época) a
> CPI que investigaria este fato. Outra pergunta que não quer calar é o que
> gerou os juros tão baixos praticados pelo BNDES nos casos das
> privatizações? Eu vendo e ainda te empresto dinheiro para comprar, e como
> sou camarada faço com que o meu banco quase não cobre juros. Mas espera
> aí, banco, mesmo que seja público, não é para ter lucro? A corrupção
> latente no sistema de governo brasileiro não é algo promovido pelos
> petistas que ai estão. Com certeza foi aproveitado por eles, mas não é
> algo novo. Nesta linha sucessória os aprendizes, outrora acusadores,
> apenas trocaram de papel e função com seus antecessores, hoje acusadores.
> Possivelmente o grande erro da trupe petista, tenha sido admitir a
> existência do Caixa 2 em sua campanha. É fato que campanhas eleitorais,
> dos mais variados partidos, sempre tiveram Caixa 2. Lembro do caso Cassio
> Taniguchi (eleito dep. federal) que quase perdeu o mandato de prefeito por
> conta instrumento. A novidade no caso foi o "mea culpa" por parte do
> governo federal. Compra de votos (agora chamado de mensalão) na câmara dos
> deputados? Também não é novidade, lembremos da votação para aprovação do
> projeto de reeleição, quando o FHC comprou a sua aprovação.
> Depois disto tudo, vejo que a diferença dos candidatos não é tão grande
> assim. Na verdade, programaticamente são iguais, a única diferença
> significativa é o número a se digitar na urna eletrônica. Teoria e
> prática se equivalem neste aspecto.
> Abraços e/ou beijos.