1. PROJETO
1.1. PROPOSTA DO PROJETO
O objeto
de estudo deste projeto é a corrosão verificada
em meios aquosos contendo sulfetos, situação
largamente encontrada em refinarias de petróleo.
Propõe-se portanto desenvolver um novo método
de monitoramento on-line da corrosão (sobretudo
para equipamentos das unidades de UFCC de refinarias),
além de avaliar técnicas eletroquímicas
já empregadas e aumentar sua sensibilidade por
meio da determinação de certos parâmetros
eletroquímicos dos sistemas (para sistemas de
água de resfriamento industrial, contaminados
por sulfetos). A implementação de tais
ações representará enormes benefícios
para o setor de petróleo e gás, que vão
desde ganhos financeiros até a diminuição
de problemas ambientais decorrentes de vazamentos.
1.2.
JUSTIFICATIVA DO PROJETO
O processamento
cada vez maior de petróleo com altos teores de
nitrogênio e H2S, fez com que ocorresse um incremento
significativo de uma das mais danosas formas de deterioração
de aços: a fratura assistida pelo hidrogênio
em meios aquosos contendo sulfetos. Esse tipo de dano
está relacionado a mecanismos envolvendo a permeação
seguida de aprisionamento e recombinação
de hidrogênio atômico em sítios suscetíveis
de aços de construção de equipamentos
utilizados nas fases de separação de produtos
em unidades de craqueamento catalítico fluido
(UFCC).
A PETROBRAS possui
histórico de danos relacionados ao hidrogênio
em suas refinarias, tendo como implicações
imediatas a redução da disponibilidade
de plantas industriais, aumento dos custos de parada
por reparos e substituições, além
dos riscos potenciais às pessoas, ao meio ambiente
e às instalações, considerando
o caso limite de não detecção de
processos de falha em serviço.
A estabilidade
de camadas de sulfeto formadas sobre a superfície
metálica é determinante para a redução
dos riscos da ocorrência de danos por hidrogênio.
Todavia, a existência de cianeto na carga craqueada
provoca a dissolução dessa camada, predispondo
o material a um intenso processo de geração
de hidrogênio, que num primeiro momento fica adsorvido
à superfície metálica.
Em função
disto propõe-se o desenvolvimento de um método
de monitoramento "on line" do filme de sulfeto
de ferro, formado sobre substrato de aço, para
um controle mais efetivo da integridade da película
de polissulfetos, permitindo a neutralização
de reações de geração de
hidrogênio. Este método estará baseado,
em princípio, em técnica eletroquímica
de voltametria anódica e de resistência
de polarização.
Na fase de levantamento
de dados será possível determinar com
mais precisão os parâmetros eletroquímicos
de meios aquosos típicos em plantas industriais
que são utilizados nos algoritmos de cálculo
de taxas de corrosão de sistemas de monitoramento.
Esse fato permitirá a customização
desses sistemas com conseqüente melhoria de sua
sensibilidade.
1.3.
DETALHAMENTO DO PROJETO POR TÓPICO ESPECÍFICO
1.3.1.
Monitoramento de Sistema de Água de Resfriamento
Industrial
O resfriamento
dos equipamentos de processo na Superintendência
da Industrialização do Xisto - SIX utiliza
um sistema misto aberto/semi-aberto, sendo que o sistema
fechado responde por mais de 95% do resfriamento dos
equipamentos de processo.
De forma a garantir
o atendimento aos parâmetros definidos a água
é tratada quimicamente utilizando sistemas comerciais.
Atualmente o tratamento é executado com programa
à base de polifosfatos e sais de zinco. A dispersão
de sais é feita à base de copolímeros
sulfocarboxílicos e inibidor de corrosão
à base de azol para cobre e ligas. O controle
microbiológico é feito com hipoclorito
complementado por dosagens em procedimentos de choque
de biocida à base de isotiazolonas para atuação
sobre bactérias redutoras de sulfato e outras
bactérias cesseis.
Algumas correntes
de hidrocarbonetos apresentam níveis bastante
elevados de H2S (inerentes ao tipo de produto processado).
Seu resfriamento ocorre em permutadores de calor que
utilizam a água de resfriamento do circuito semi-aberto.
Apesar dos fluidos serem mantidos isolados, isto é,
circulando em seções diferentes, a ocorrência
de vazamentos (falha de vedação, ruptura
de tubos ) provoca a mistura desses fluidos. Em geral
a pressão do circuito de água é
menor que a do fluido resfriado, o que induz à
contaminação da água pelos hidrocarbonetos.
Desconsiderando-se os efeitos da contaminação
com óleo e analisando apenas as conseqüências
decorrentes do H2S, verifica-se descontrole do sistema,
atingindo-se níveis de corrosão insustentáveis
para projetos convencionais de trocadores. A contaminação
passa a ser generalizada a partir do momento que a água
retorna da torre de resfriamento em direção
às unidades de processo levando o problema a
todos os equipamentos que fazem parte do circuito.
A SIX tem sofrido
os problemas decorrentes dessas contaminações
tendo que retubular totalmente 5 permutadores de calor
em período inferior a 18 meses somente em uma
de suas unidades de processo.
O tempo de detecção,
considerando-se exclusivamente os métodos que
são utilizados (gravimétricos de corrosão
e analíticos para análise da qualidade
da água), depende do nível da contaminação,
podendo ser imediato, caso sejam observados aumento
de turbidez e queda do pH ou levar semanas, quando não
ocorrer variações perceptíveis
em variáveis de controle.
No caso de permutadores
críticos que obriguem à parada da planta,
os lucros cessantes podem chegar a dezenas de milhares
de dólares por dia, além dos prejuízos
ambientais por conta de emissão de gases ricos
em óxidos de enxofre.
Contaminações
da água de resfriamento com sulfetos podem ocorrer
em qualquer processo que manipule fluidos com esse tipo
de gás em solução. Na PETROBRAS
há diversos registros de falhas de equipamento
imputadas a sulfetos em diversas refinarias.
Desconsiderando
o H2S produzido metabolicamente pela redução
de íons sulfato por bactérias redutoras
de sulfato, a corrosão do aço por sulfetos
em sistemas de água de resfriamento ocorre, como
já apresentado, pelas contaminações
que a água sofre a partir de fluidos com teores
elevados de H2S em solução. Esse gás
promove a corrosão através de duas maneiras:
Pela
redução do pH da água, criando
condições à evolução
de hidrogênio, através da reação:
H2S =>
2H+ + 2HS-
Fe =>
Fe2+ + 2e-
2HS- +
Fe 2+ + 2e- => FexSy + S2- + 2Hº
2Hº
=> H2
Em baixos
pHs a camada de sulfeto de ferro sofre dissolução,
expondo o material novamente ao ataque.
O ataque
é intensificado em regiões sob depósito
(tubérculos) como decorrência da aeração
diferencial, em função do efeito despolarizante
do oxigênio (reação catódica).
As taxas
de corrosão atingem valores superiores a 10 mpy
(0,25 mm/ano), quando medidas em cupons. Porém,
devido à característica alveolar do ataque
(perfurante) o problema se torna muito mais sério.
Pela
formação de camada de sulfeto de ferro
estável em pHs mais elevados, neste caso pode
ocorrer corrosão galvânica , visto que
o FeS é catódico em relação
ao ferro. Normalmente as taxas de corrosão são
desprezíveis e o aço carbono apresenta
excelente desempenho nessa condição.
Com base
no exposto é feita proposta de projeto objetivando:
·
Utilizar técnicas eletroquímicas consolidadas
visando verificar sua sensibilidade e tempo de resposta
a mecanismos de corrosão oriundas de processos
de contaminação por sulfetos em sistemas
de água de resfriamento industrial.
·
Estabelecer condição ótima de operação
do sistema (de mais elevada tolerância a sulfetos)
com base no comportamento dos parâmetros físico-químicos
da água em situação de contaminação.
·
Definir as variáveis de controle para o estabelecimento
de sistema de monitoração e gerenciamento
de corrosão em tempo real de sistemas de água
de resfriamento, de modo a permitir controle contínuo
e redução do tempo necessário para
as ações contingenciais após o
início do processo de contaminação
por sulfetos.
2.
Monitoramento de Vasos de Alta Pressão em Unidades
de Craqueamento
Um outro
grande problema encontrado em refinarias de petróleo
é o controle da deterioração nas
estruturas dos aços das unidades de craqueamento
catalítico. Esta deterioração está
relacionada a mecanismos envolvendo a penetração
de hidrogênio no aço e corrosão
sob tensão.
Trincas
em vasos de aço utilizados no craqueamento, que
operam a altas pressões, têm sido identificadas
como um dos maiores problemas em refinarias. Embora
aproximadamente a metade destas trincas pareçam
ser causadas por defeitos de soldagem, o restante tem
sido conseqüência da penetração
de hidrogênio no aço.
Existem
quatro tipos de corrosão dependentes do hidrogênio:
Corrosão sob tensão (SSC), trincamento
por corrosão por sulfeto (SSCC), trincamento
induzido por empolamento de hidrogênio (HBIC)
e trincamento induzido por tensões orientadas
provocadas por hidrogênio (SOHIC). Em todos os
quatro tipos de corrosão dependentes de hidrogênio,
o cianeto é considerado como principal agente
promotor do mecanismo de corrosão.
A corrosão
está sempre presente numa Unidade de Craqueamento
Catalítico Fluido (UFCC). No processo de craqueamento,
o enxofre na alimentação é convertido
para sulfeto de hidrogênio (H2S) e o nitrogênio
é convertido para amônia (NH3) ou cianeto
de hidrogênio (HCN). A reação primária
de ataque de corrosão no aço pelo bissulfeto
ocorre segundo a equação:


A fonte
de bissulfeto de amônia é a reação
da amônia e o sulfeto de hidrogênio :

O hidrogênio
atômico, Ho , se combina para formar hidrogênio
molecular, H2, que é um gás conforme:

Como
resultado, o hidrogênio atômico pode penetrar
na parede de aço e ficar retido em inclusões
ou descontinuidades como hidrogênio molecular
gerando tensões que provocam trincas e corrosão.
Uma camada de sulfeto na superfície do aço
retarda esta reação de recombinação.
Pesquisas
sobre as causas do ataque pelo hidrogênio, provocando
corrosão por empolamento de hidrogênio,
concluíram que a camada de sulfeto de ferro era
removida pelo cianeto segundo a reação:

Uma vez
que o ferrocianeto de amônia é solúvel
em água, a camada protetora de sulfeto de ferro
é removida, expondo o metal ao ataque pelo bissulfeto.
Conseqüentemente, é recomendada a utilização
de inibidores polissulfetos como um método de
remoção do cianeto. A remoção
do cianeto ocorre segundo a reação:

Entretanto
a utilização destes inibidores representa
um elevado custo para as empresas. Em função
disto há a necessidade de um controle mais efetivo
sobre a formação e dissolução
da película de polissulfetos, bem como a ação
de hidrogênio na superfície dos equipamentos.
A detecção
da penetração do hidrogênio, por
sensores de hidrogênio, é uma das formas
de monitoramento mais eficientes utilizadas no momento
permitindo o controle do processo de injeção
de inibidor de cianeto aumentando a vida útil
dos vasos de craqueamento.
Contudo,
como a condição para monitoramento deste
último caso requer a geração e
penetração de hidrogênio, há
o comprometimento do aço pelo hidrogênio
que fica retido, visto que há necessidade de
permeação do hidrogênio para sua
detecção.