IMIGRAÇÃO
Segundo o governo do Acre, desde
dezembro de 2010, cerca de 130 mil haitianos entraram pela fronteira do Peru
com o Estado e se instalaram de forma precária nos estados do Paraná, Acre, Amazonas,
Mato Grosso e Mato Grosso do sul. De acordo com o delegado Carlos Frederico
Portella Santos Ribeiro, da Polícia Federal (PF), entre janeiro e setembro do
ano de 2011, foram 6 mil e, em 2012, foram 2.318 haitianos que entraram
ilegalmente no Brasil.
Os haitianos chegam a Brasileia, no
Acre, de ônibus e são orientados a procurar a delegacia da PF solicitando
refúgio, preenchendo um questionário no próprio idioma e sendo entrevistados
por policiais. A PF expede um protocolo preliminar que os torna
"solicitantes de refúgio", obtendo os mesmos direitos que cidadãos
brasileiros, como saúde e ensino. Eles também podem tirar carteira de trabalho,
passaporte e CPF, sendo registrados oficialmente no país.
Após o registro na PF, a documentação
segue para o Comitê Nacional de Refugiados (Conare) e para o Conselho Nacional
de Imigração (Cnig), que abrem um processo para avaliar a concessão de
residência permanente em caráter humanitário, com validade de até 5 anos.
Os haitianos não são considerados
refugiados no Brasil. Segundo a lei brasileira, o refúgio só pode ser concedido
a quem provar estar sofrendo perseguição em seu país, por motivos étnicos,
religiosos ou políticas. Porém, em razão da crise humanitária provocada pela
catástrofe de 2010, o governo brasileiro abriu uma exceção, concedendo-lhes um
visto diferenciado.
Em abril de 2013, o governo do Acre
decretou situação de emergência social nos municípios de Epitaciolândia e
Brasileia em consequência da chegada descontrolada de imigrantes nestes locais,
em sua maioria haitiana. Durante meses, um abrigo emergencial para imigrantes
funcionou em Brasileia. No mês de abril de 2014, em razão das enchentes do rio
Madeira, esse abrigo, já então superlotado, teve que ser fechado, deixando
desabrigados não apenas os haitianos, mas também migrantes originários de
outros países, como Senegal, Nigéria, República Dominicana e Bangladesh.
A situação de ilegalidade dos
migrantes é, em grande parte, consequência de exigências burocráticas impostas
pelo Ministério das Relações Exteriores para a entrada de estrangeiros no país.
A abertura diplomática de diálogo com os governos de Peru e Equador acerca da
exigência de visto aos imigrantes resolveria 90% do problema da imigração
ilegal. [carece de fontes] Além dos haitianos, migrantes de outros países
começaram a utilizar a fronteira entre Assis Brasil e a cidade peruana de
Iñapari como porta de entrada para o Brasil.
Em consequência do fechamento do
abrigo de Brasileia, o governo do Acre despachou os migrantes para Rio Branco,
de onde seguiram viagem para outros estados. Desde os dias 8 e 9 de abril de
2014, a chegada massiva de haitianos à cidade de São Paulo sem aviso prévio, em
ônibus fretados pelo governo do Acre chamou a atenção da imprensa, da sociedade
civil e de diversas organizações humanitárias. Ao chegar à capital paulista,
muitos deles procuram da Missão Paz, uma ONG ligada à Pastoral dos Migrantes.
Fundada por religiosos scalabrinianos, a Missão Paz funciona na paróquia de
Nossa Senhora da Paz, no bairro do Glicério. Desde 1939 em atividade, a Missão
acolhe diariamente 110 imigrantes e de 60 a 70 nacionalidades por ano. 6 650
haitianos passaram pela Missão Paz entre 7 de abril e 11 de maio de 2014. A
entidade atende migrantes (internos e externos) e refugiados de todo o mundo
desde sua fundação, em 1939. O padre Paolo Parise, coordenador da Missão,
destaca a necessidade de que o Brasil disponha de uma lei de migração humanista
e clara, em substituição à Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980 (Estatuto do
Estrangeiro), uma "herança do tempo da ditadura". Segundo ele, o país
carece de uma política de migração de fato, e o Estado - não as organizações da
sociedade civil - é que deve ser o protagonista nas ações em favor dos
migrantes.
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