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Mapa
étnico da África centro-ocidental durante o século
XV e XVI. BIRMINGHAM,
David. A África central até 1870: Zambézia, Zaire
e o Atlântico sul.
Luanda: ENDIPU/UEE, 1992.
Algumas
são as teorias a partir dos relatos orais, pesquisas
analíticas de tais relatos,
como a do historiador John Thornton (2004) indicam que o fundador
do
estado congolês através do domínio bélico
sobre os povos ao seu redor
estabeleceu as bases do reino, detendo posteriormente o direito de
taxar
determinados povos circunvizinhos. Com a assimilação de
sociedades próximas
através da coerção, o Mani teria realizado uma
distribuição de cargos entre os
membros mais influentes do estado congolês. Corroborando tal
teoria podemos
acrescentar que o fundador do estado do Congo, segundo Ronaldo Vainfas
e Marina
de Mello e Souza, seria pertencente a uma sociedade estrangeira
chefiado por
Nimi a Lukeni, tal informação dos autores foi retirada e
analisada dos
registros de traição oral, mais especificamente o de Rui
de Pina (SOUZA &
VAINFAS, 1998).
Tomando
como premissa de análise a
interpretação de Thornton sobre a origem do estado
congolês precisamos
compreender que pessoas influentes eram essas que realizavam a
burocracia
congolesa e o papel do domínio sobre os povos circunvizinhos
– sobretudo no
tocante ao controle social exercido. Rotineiramente
temos como costume
chamar de reis os soberanos da África em
associação a idéia de rei moderno
existente na Europa, tal terminologia deve ser problematiza, haja vista
o caráter
do rei europeu não se aplicar a vasta maioria dos governantes
africanos. Um
exemplo claro de tal diferença pode ser visto no próprio
reino do Congo, aonde
o cargo de Mani não detinha um caráter hereditário
e muito menos divino.
O
caráter divino não competia à
imagem do Mani e, a hereditariedade – mesmo sendo levada em
consideração – não
era o fator de congraçamento real. A eleição por
intermédio de um grupo de
pessoas influentes era o caráter de legitimação do
Mani. Tal eleição trazia a
tona uma sobreposição do estado sobre o resto da
sociedade, nem mesmo o Mani
podia estar acima da organização burocrática
(THORNTON, 2004).
Antes
de explicitar sobre o papel
do estado, vamos nos ater ao grupo de indivíduos envolvidos na
eleição real.
Muito se defendeu na historiografia sobre o continente africano o
caráter de
nobreza para tais indivíduos que detinham uma parcela de poder
junto ao Mani.
Ao analisar as sociedades do Sudão ocidental, Basil Davidson
trata as mesmas
com grande enaltecimento político e cultural, denominando o
grupo de pessoas
envolvidas com o controle de estados como Ghana, Mali e Shongai de
nobreza africana
(DAVIDSON, 1996).
Pesquisadores
como J. D. Fage e J.
Thornton negam a categoria de nobreza a tais grupos, pois assim como o
conceito
de rei europeu foi aplicado de forma equivocada aos governantes
africanos
pela historiografia pós colonial, o que se tem por nobreza
africana foi
formulado a partir de comparações a nobreza
européia, seguindo os padrões dos
relatos de época (FAGE, 1982).
Esses
grupos influentes tinham
suas origens políticas embasadas na linhagem. Precisamos ter em
mente que em
boa parte das sociedades da África centro ocidental a
ancestralidade e os
grupos familiares foram de grande influencia política e
prestigio social
(LOVEJOY, 2002). Portanto podemos explicitar através da
análise de Thornton que
os grupo influentes eram grandes aglomerados familiares – seja na
prática ou em
termos de signo cultural – que detinham poder local e estavam
subjugados pelo
estado. Esses “nobres” viviam através de
remunerações estatais fornecidas pelo
Mani enquanto esses servissem ao estado, ou seja, eram grupos de
funcionários
do estado. Os mesmos podiam se desvincular do soberano congolês e
procurar
outro governante para servir. Temos então um panorama aonde
observamos o estado
em si como o centro social da sociedade congolesa, os governantes e
seus
funcionários tinham por objetivo manter o estado funcionando
(THORNTON, 2004).
Como
foi dito anteriormente, o
reino do Congo era um estado tributário que taxava suas
possessões
circunvizinhas. Diferentemente do que estamos costumados a pensar, tal
taxação
não se perfazia puramente por vieses monetários, mas dos
mais diferentes tipos
de tributo (PIGAFETTA & DUARTE LOPES, 1989, 19-24). Mzimbo,
alimentos e
serviços eram elementos constantes da tributação,
no entanto nada era mais
valorizado como tributo no Congo e em boa parte das sociedades
africanas do que
o trabalho escravo.
Muito
tem se discutido desde os
anos de 1980 sobre o caráter da escravidão interna e
externa em relação ao
continente africano, historiadores como Paul Lovejoy, J. D. Fage,
Claude
Meillassoux, John Thornton, Joseph Miller, dentre outros estudiosos
têm
trabalhado com a relação entre sociedade africana e
escravidão. O reino do
Congo, assim como boa parte dos povos da África centro-ocidental
era organizada
de forma parental, essa organização social também
é referida como sociedade
doméstica (MEILLASSOUX, 1995).
Para
Meillassoux a organização
social das sociedades domésticas esta intrinsecamente vinculada
à divisão do
trabalho agrícola e por laços consangüíneos.
Sendo assim, a sociedade doméstica
não constitui uma sociedade de classes, pois sua divisão
é baseada em
produtivos e improdutivos. Os produtivos trabalham por eles e pelos
improdutivos,
que em geral são crianças e idosos. Cada um cumpre seu
papel dentro da
sociedade. Aos homens compete o trabalho agrícola, as mulheres
se dedicam a
atividades domésticas, agricultura e o mantimento da linha
parental e aos
idosos a sabedoria ancestral.
O
fator produtividade esta,
inerentemente vinculado a reprodutividade. O fator produtivo vai
determinar o
crescimento ou não da comunidade doméstica, a
transferência do sobreproduto
produzido pela sociedade gera bases para o espraiamento de laços
de filiação.
Uma baixa produtividade implica em baixa reprodução,
abrindo precedentes para o
surgimento dos chamados estranhos celibatários (MEILLASSOUX,
1995).
Os
estranhos podem ser adquiridos
por vias como as guerras vicinais, casamentos, penhoras, entregas
espontâneas e
acordos diplomáticos (REIS, 1987). De forma geral as sociedades
domésticas
tendem a assimilar mais estranhos mulheres do que homens, tendo em
vista o
caráter reprodutivo desta. A introdução de uma
mulher na comunidade como
estranho alavanca a capacidade produtiva do grupo parental e, tendo em
vista o
grande vazio demográfico, a concentração
populacional se sobrepõe a posse da
terra nas sociedades africanas em termos políticos e
socioculturais
(MEILLASSOUX, 1995).
O
estranho celibatário em geral
costuma ser assimilado posteriormente pela comunidade, ou seja, ele se
encontra
na condição escrava, mas sua natureza é de origem
livre. Os celibatários são
aqueles que não despojam de um matrimonio dentro da comunidade,
sendo assim,
todo o seu sobreproduto é destinados as outros da comunidade,
não recebendo
nada em troca por isso. Surgem assim as bases da escravidão
doméstica.
Este
estranho celibatário só
deixará de seu celibatário quando realizar um
matrimônio. Desta forma o seu
sobreproduto será transferido para a sua própria
linhagem. Sua prole, os
ingênuos, serão inferiores dentro da divisão do
trabalho, porém com o passar
dos anos sua linhagem se consolidará no grupo parental e
deixará a mácula de
estranho no passado. Outra característica da escravidão
doméstica não
constituir uma classe de escravos se encontra no fato de o
“abastecimento” de
estranho rumo ao grupo é irregular e inconstante, feita apenas
em
circunstâncias específicas como dificuldades
agrícolas, reprodutivas, oferta
voluntário e guerras.
Meillassoux
frisa por várias vezes
que esse estranho celibatário é sim um escravo. Pois
mesmo a nível produtivo
desempenhando as mesmas tarefas que os demais membros do grupo, ele
é impedido
de participar o processo reprodutivo da comunidade. O estranho absoluto
surge
devido a dificuldades muitas vezes das comunidades domésticas de
assimilar
esses estranhos, que por muitos vezes representam o desconhecido,
incivilizado.
Os estranhos que não são assimilados a linha parental ou
subjugados ao
celibato, são destinados ao sacrifício em rituais,
sobretudo os homens. Pois
ele se torna mais um improdutivo dentro desta comunidade, não
produz e nem reproduz.
São os chamados imolados (MEILLASSOUX, 1995).
Nesse
sistema de escravidão, a não
existência da terra como uma propriedade privada ou estatal fez
com que a posse
de mão-de-obra fosse uma circunstância geradora de riqueza
e status social. A
escravidão chamada por Mellaissoux de doméstica era
assimilativa e tendia a
escravização principalmente de crianças e
mulheres, ou seja, a escravidão
africana tinha uma inclinação social e não
econômica como a que se estabeleceu
com a presença européia na África. Fortemente centrada em torno das elites congolesas, a organização espacial cidades e as aldeias. Nas cidadãs – Mzamba – residiam as elites, nas lubatas – aldeias – residiam os congoleses, neste aspecto se ligam os imaginários de que a elite seria estrangeira e os nativos os dominados socialmente (SOUZA & VAINFAS, 1998). Os chefes de aldeia – nkuluntu – eram o elo entre as aldeias e as Mzamba, principalmente Mzamba Congo.
Uma sociedade estruturada de
forma hierárquica claramente dividida entre elites e
aldeãos, tanto no
comportamento social quanto e sua estruturação espacial.
Suas origens estariam
encontradas nas invasões estrangeiras que devem ser
problematizadas, pois as diferentes
sociedades domésticas africanas detinham um padrão de
aliança bastante
instável, podendo ser portando o “invasor
estrangeiro” uma sociedade vozinha
que outrora fez aliança com demais e acabou concentrando grande
séquito e o
controle sobre toda a mão-de-obra, no entanto, ficamos presos no
campo das
ideais, com suposições possíveis e
factíveis do como surgiu o reino do Congo. |
2. CONTATO COM OS PORTUGUÊSES E O TRÂNSITO ATLÂNTICO. Ainda
no século XV o Congo é atingido pelo expansionismo
português, que a essa altura
tinha o comércio como ponto primaz de sua lógica
gerencial. Os contatos
estabelecidos entre portugueses e congoleses se mostrou fecundo a ambos
os
lados, diferente das experiências lusas nas demais localidades da
África
ocidental. No
século XVI o Congo atuou de forma maciça no
comércio Atlântico, desempenhava
papel fundamental nas redes escravagistas em formação,
M'zamba Congo, cidade
sede do Mani, era o principal estuário de cativos, as margens do
rio Congo a
cidade possuía uma localização segura e
confortável ao comércio. Mesmo atingido
pelas pressões crescentes do tráfico, o Congo ainda
mantinha sua organização
política e econômica semelhantes aos antecedentes do
contato externo, no
entanto já se encontrava cristianizado, experiência
única na África
centro-ocidental, no qual em boa parte o cristianismo não se
difundiu com força
estatal como no reino do Congo (BIRMINGHAM, 1992, p. 56). Assim
que laços diplomáticos foram estabelecidos entre Portugal
e o Congo,
darse-ia-se inicio a um transito atlântico não só
comercial, mas cultural e
político, com membros da chamada nobreza congolesa se deslocando
para Portugal
com fins políticos e educacionais. Comitivas lusas de
pregação da fé católica e
de influencias políticas e intelectuais desembarcavam no Congo
com o intuito de
aprofundar os laços entre os dois reinos, pois pelo menos em
teoria havia o
reconhecimento mútuo de autoridades reais (THORNTON, 2004). Com o prolongar dos contatos comerciais e políticos, surgem contatos culturais e biológicos. Emerge assim no Congo um grupo de afro-europeus com interesses próprios, em detrimento dos estados luso e congolês. Os afro-europeus eram peça chave nas relações comerciais na zona atlântica, pois este grupo era em boa parte responsável pela busca de cativos nas feiras do interior africano. Juntos dos nativos que buscavam cativos – pumbeiros – os afro-europeus dominavam a circulação de cativos dentro do congo, enquanto Portugal detinha um monopólio do tráfico no Atlântico no século XVI (BIRMINGHAM, 1992, p.59-62). Além
do comércio de cativos, a conversão do reino do Congo foi
uma profunda marca histórica,
sendo até mesmo impensável para a época. A igreja
católica portuguesa instalada
no Congo logo adquiriria características locais e se tornaria em
uma religião eclética
e a serviço do estado congolês e do Mani (SOUZA &
VAINFAS, 1998), além da
introdução de culturais agrícolas como o milho e a
mandioca, que em pouco tempo
se tornaram alimentos básicos no Congo (BIRMINGHAM, 1992, 56).
|
3.
PRESSÕES DO TRÁFICO DE ESCRAVOS E A QUEDA DA MONARQUIA. No
século XVII o Congo apresentava sinais de
descentralização do poder do Mani
devido a pressões externas e internas. A falta de controle sobre
o tráfico de
escravos – essa altura a principal fonte econômica –
levava ao enfraquecimento
do poder do Mani e consequentemente a desestruturação
política e consolidação
das elites locais (SOUZA & VAINFAS, 1998).
Buscando
a reafirmação do papel do
estado na figura do Mani, uma série de políticas que
visavam o fortalecimento
do estado foram tomadas, desde uma maior taxação da
circulação de cativos – que
se demonstrou infausta devido aos desvios ilegais do comércio
– quanto ao
fortalecimento da religião católica com o intuito de
enfraquecer ordens cristão
que monopolização o comercio de escravos como a companhia
de Jesus e a ordem de
São Tomé (MELLO e SOUZA, 2006).
No
século XVII o Congo adquiriu o
direito de ter a sua própria diocese, dando sinais de
pujança diplomática,
enviando inclusive um eclesiástico direto a Roma. No entanto o
membro da igreja
católica congolesa foi detido em Lisboa e não conseguiu
estabelecer contato com
Roma, pois faleceu antes de o solo da península itálica
(BIRMINGHAM, 1992, 59).
O
fortalecimento de uma igreja
independente era visto como uma afirmação política
e posteriormente um
fortalecimento econômico. No entanto em nada mudou o
cenário político, pois
ainda no século XVII a sede do cristianismo na África
centro-ocidental se
deslocou para Luanda, no qual a presença lusa era dominante e o
comércio de
escravos, marfim e cera, havia despertado um interesse na coroa
portuguesa (MILLER,
2002).
Em
meados do século XVII, a
aparente situação de igualdade entre os aliados –
Portugal e Congo – se
demonstrou na realidade uma ferida política e econômica
que se acentuava cada
vez mais com o papel crescente que Luanda desempenhava no mundo
Atlântico. Em
1622 a situação atingiu níveis bélicos com
a invasão do Congo por empacaceiros
de Angola sobre o controle do governador João Correia de Sousa.
O conflito teve
seu fim após intensas negociações, no entanto o
clima de tensão política e
econômica se mantivera (BIRMINGHAM, 1992, 61-62).
Os
problemas no reino do Congo se
acentuariam com a presença dos holandeses em Angola em meados do
século XVII. A
presença flamenca fez aflorar novamente o comércio na
região, sobretudo na
província de Sohio, na foz do rio Congo. Esse fenômeno fez
com que o poder dos
senhores locais crescente em detrimento do real, desestabilizando ainda
mais o
frágil sistema político congolês. Além
disso, o contato com os flamencos foi
mal visto pelos portugueses que após a reconquista de Angola
pelos
luso-brasileiros, passaram a ver no Congo um vizinho incomodo (SOUZA
&
VAINFAS, 1998).
Em
1655 a monarquia congolesa de
D. Antonio I caiu após anos de conflitos com Angola devido a
pressupostos
político e econômico do tráfico de escravos. O
congo do século XVIII o qual os
missionários Ignazio e Bassano pregaram a fé era um
território divido entre
novas elites que emergiram dos conflitos internos, era um Congo de
movimentos
religiosos de fins políticos como o Antoniano e com
inúmeras disputas centrais (SOUZA
& VAINFAS, 1998). |
4. CRISTIANISMO CONGOLES E O OS CAPUCHINHOS. O
catolicismo congolês – como já podemos notar –
apresenta algumas
características distintas, sobretudo com relação
as suas práticas e
representações. O catolicismo reinterpretado pelos
congoleses se colocou a
serviço do estado (THORNTON, 2004). Essa característica
foi fundamental para o
espraiamento e instalação da instituição
eclesiástica no reino do Congo. O
papel do Mani foi crucial para o desenvolvimento do catolicismo no
Congo. Além
de ser o detentor do poder político sobre o estado –
institucionalizando de
forma vertical uma crença - estava incluso dentro da esfera
mística, legitimando
a institucionalização da nova crença
(GOLÇALVES, 2011). No entanto precisamos
nos ater de que as esferas religiosas e políticas foram
concomitantes no reino
do Congo – faziam parte de uma estrutura sociopolítica. O
caráter eclético do catolicismo congolês pode ser
vislumbrado do chamado
movimento Antoniano. Segundo Ronaldo Vainfas e Marina de Mello e Souza,
o
antonianismo foi um movimento de cunho religioso e político
marcadamente
católico, no qual o cristianismo se perfez de forma remodelada
pelas práticas
locais (SOUZA & VAINFAS, 1998). Kimpa
vinta – crédula em ser a reencarnação de
Santo Antonio – pregava as crenças católicas
locais, ou seja, um cristianismo visto pelos missionários,
sobretudo os
capuchinhos, como sendo heresia. Além do tom religioso, o
movimento tinha sua
inflexão política. Em vista do cenário fragmentado
do Congo na virada do XVII
para o XVIII, Kimpa vinta via na centralização do poder
novamente em São
Salvador e sendo assim, fortalecendo o estado, por conseguinte a
religião,
realizando também uma repressão aos membros estrangeiros
da igreja. Duramente
reprimido foi o movimento, uma das ordens a realizar tal
repressão foram os
capuchinhos, que se instalaram na região pela primeira vez em
1645, sendo que
logo demonstraram descrença na pregação no
catolicismo na região, no entanto,
no século XVIII, com a sede eclesiástica já em
Luanda, os capuchinhos intensificaram
sua ação, sobretudo a representação de
práticas sincréticas. No entanto, a
prática do batismo de sal – afasta os maus
espíritos – foi tolerada por eles,
por ser largamente aceita e profundamente vinculada com as formas de se
realizar o batismo no Congo. Detendo
um caráter de pregação, quase que
civilizatório, os capuchinos pregaram a fé
cristã e reprimiram as crenças locais. Nas imagens
expostas na página “Imagens”
podemos observar aspectos muito sutis das relações entre
congoleses e
capuchinhos. Em uma das aquarelas observamos o capuchinho Ignazio
ateando fogo
a uma das casas locais e logo abaixo um conjunto de criaturas
vinculadas no imaginário
a maus presságios e crenças obscuras. Vinculando as
crenças locais ao paganismo
e o fogo a purificação cristã. Capuchinhos, assim como jesuítas e outras ordens, desempenhavam mais do que um papel de pregação, realizavam através de Luanda no século XVIII um papel econômico e político. Não temos evidencias aqui para computar na conta dos capuchinhos que exercessem atividades negreiras, no entanto, era comum que membros de ordens residentes na África se envolvessem com o tráfico de escravos (VENÂNCIO, 1996). Imbuídos do combate ao hibridismo que o cristianismo católico havia manifestado no Congo, os capuchinhos colocaram em práticas aldeamentos de ensino da bíblia, como também podemos notar em umas das imagens – no qual o capuchinho Ignazio aparece em um aldeamento semelhante a uma sanzala. Sentado, o missionário prega ao mundo congolês. Além de tudo que já foi exposto, vale ressaltar brevemente o caráter étnico desempenhado pelos capuchinhos que boa parte dos relatos produzidos por estes se remetiam a Sagrada Congregação da Propaganda de Fide, que visava a “purificação” do catolicismo congolês. Isso gerou uma intensa troca de correspondências e intensificação na produção de relatos. O texto aqui exposto teve mais um caráter opinativo e bibliográfico – introdutório – não fez menção a fontes históricas, tentou mostrar que mesmo hierarquizado e rígido, a forma de pregação capuchinha acabou se moldando ao “outro” sem deixar de ser católica e ainda vetando as crenças locais ou correlatas. Referências bibliográficas. ATISTA, Claudia Regina; RIBAS ULBRICHT, Vania. Discussões sobre o perfil do designer de interfaces web. Revista Design em Foco. Vol. III, Núm. 2, julio-diciembre, 2006, pp. 87-101. BARBOSA,
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