Historiografia Brasileira
Algumas Anotações
Voltar Inicial IHGB Von Martius Varnhagen Capistrano Freyre Buarque Boris Caio Prado Florestan Outros
Autores
Obras Referências Avança
Voltar página anterior Página inicial IHGB Von Martius Varnhagen Capistrano Freyre Buarque Boris Caio Prado Florestan Outros autores Livros Referências Próxima página

Obras de Referência dos Autores - Comentários

Von Martius - Como se Deve Escrever a História do Brasil
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro será o lugar privilegiado da produção histórica brasileira durante o século XI, condicionando as reconstruções históricas, as interpretações, as visões do Brasil e da questão nacional.
Em 1840 o IHGB estabeleceu um prêmio para quem elaborasse o melhor plano para a escrita da História do Brasil, vencido pelo botânico e viajante alemão Von Martius.
Como se deve escrever a História do Brasil, publicao na Revista do IHGB em 1845, Von Martius definiu as linhas mestras de um projeto histórico capaz de garantir uma identidade ao Brasil, lançando os alicerces do mito da democracia racial brasileira. Para ele, a identidade brasileira deveria ser buscada no que mais singularizava o Brasil: a mescla de raças.
Uma história que realizasse o elogio do Brasil, dos seus heróis portugueses do passado distante e recente,, que expressasse uma confiança incondicional em seus descendentes. Uma história que não falasse de tensões, separações, contadições, exclusões, conflitos, rebeliões, insatisfações, pois uma história assim levaria o Brasil à guerra civil e a fragmentação, isto é, abortaria o Brasil que lutava para se constituir como poderosa nação.
O que Von Martius tinha elaborado não era uma tal história ainda, mas somente o seu projeto, que ele próprio se recusara a levar adiante. Faltava, portanto, o historiador brasileiro que poderia realizar tal projeto de história do Brasil. Varnhagen tomará para si esta tarefa e se tornará o primeiro grande "inventor do Brasil" e sua obra a mais grande síntese do Brasil do século XIX.
As identidades do Brasil, José Carlos Reis, páginas 26-28.

Varnhagen - História Geral do Brasil
Varnhagen é considerado o "Herodoto Brasileiro", como fundador da História do Brasil. Sua obra refletia a preocupação com a documentação sobre o passado brasileiro que o IHGB tão bem representava.
O amadurecimento em 1850 dss condições históricas do Brasil, a independência política e a constituição do estado nacional foram fatores fundamentais para a produção da obra de Varnhagen. Além disso a institucionalização da reflexão e da pesquisa históricas no IHGB contribuiram ao ambiente propício da gênese do livro.
Sofre Influência da crítica documental alemã. Iniciador da pesquisa metódica nos arquivos estrangeiros onde encontrou e elaborou inúmeros documentos sobre o Brasil.
Movido por um patriotismo profundo ao escrever sobre o Brasil uma história completa e apaixonada.
A nação recém- independente precisava de um passado do qual pudesse se orgulhar permitindo-lhe avançar para o futuro. O novo país precisa reconhecer-se histórica e geograficamente.
Na obra temos a natureza selvagem, os indígenas,a descoberta do Brasil, a vitória portuguesa contra franceses e holandeses, os negros e a escravidão, a família real e a independência.
As identidades do Brasil, José Carlos Reis, página 23 e seguintes.

Capistrano de Abreu - Capítulos de História Colonial
Após 1870 os franceses não eram mais a única referência aos intelectuais brasileiros, também, agora, alemães e ingleses. Na formação de Capistrano de Abreu foram importantes Taine e Comte, mas também Ranke e Buckle (História da civilização na Inglaterra). Capistrano escrevia artigos e pronunciava conferências sobre as influências positivistas de Spencer, Buckler, Comte e Taine. Com o aprendizado do alemão Capistrano teria passado do positivismo ao realismo histórico rankiano, optando pela pesquisa documental e pelo método crítico alemão.
Necessidade de encontrar leis para a história do Brasil, buscando ideais objetivistas de verdade, apoiando-se em documentos inéditos, em testemunhas oculares. Deve haver o distanciamento do historiador, que manipula os fatos e sua interpretação.
Capistrano será um dos iniciadores da corrente do pensamento histórico brasileiro que "redescobrirá" o Brasil, valorizando o seu povo, as suas lutas, os seus costumes, a miscigenação, o clima tropical e a natureza brasileira. Em Capítulos de História Colonial ele não fez uma história absolutamente político-administrativa ou biográfica, mas procurou apreender a vida humana na multilateralidade de seus aspectos fundamentais. Para ele, como historicista, o historiador deve recriar a vida integralmente, realizar uma compreensão total e criadora do curso histórico e, em sua obra, aparecem os caminhos que levam ao sertão e o próprio sertão brasileiro.
O brasileiro é o europeu que sofreu um processo de diferenciação graças ao clima e à miscigenação com o índio. Interessa-lhe conhecer o que este povo sente e aspira. Faz uma história social e econômica do povo, sua vida, alimentação, tipos étnicos, condições geográficas, os caminhos, povoamentos, modos de viver etc.
Capistrano em sua obra nos dá uma descrição geográfica do Brasil, situando-o, localizando-o, mostrando seus limites, as suas dimensões. Faz considerações sobre o relevo, os acidentes e as singularidades geográficas.
As identidades do Brasil, José Carlos Reis, página 90 e seguintes.

Gilberto Freyre - Casa Grande & Senzala
Introduziu na análise nacional uma forte quantidade de afetividade e subjetividade. Seu estilo era coloquial, de pertencimento ao objeto. Conhecer o tipo ideal numa abordagem empática; apreende o espírito ibérico para compreender as conexões entre os tipos.
Freyre estudou o cotidiano. A Sociologia histórica mostra as instituições em suas formas de convivência e em seu desenvolvimento no tempo.
Casa grande & senzala é comumente considerado um dos três mais importantes livros produzidos na década de 1930 - os outros dois são Evolução Política do Brasil (1933) de Caio Prado Júnior e Raízes do Brasil (1936) de Sérgio Buarque de Holanda.
Representa uma continuidade da visão dos "descobridores do Brasil", isto é, ele faz um reelogio da colonização portuguesa.
A visão do Brasil que Freyre teve, através de marinheiros brasileiros em Nova York, mulatos e cafuzos, que deram a ele a impressão de serem "caricaturas de homens", uma visão de for, passados três no exterior, que lhe revelou pela primeira vez a figura do brasileiro. A imagem causou-lhe desgosto, a figura brasileira pareceu-lhe revelar algo de inferior e doentio. Teria sido a miscigenação o mal que condenaria definitivamente a raça brasileira?
Outro aspecto a permear sua obra é o teórico-metodológico, exposto com lucidez no prefácio da primeira edição. Ele concorda com o marxismo quanto á importância considerável, embora não preponderante, da técnica da produção econômica sobre a estrutura das sociedades, na definição de sua fisionomia moral. Ele não quer substituir a abordagem marxista, mas acrescentar-lhe um perfil psicológico ou psicofisiológico na análise do Brasil, aspectos que atuam sobre as sociedades independentemente das pressões econômicas.
Por fim, outro aspecto é o ponto de vista social de Freyre, revelando uma adesão incondicional ao projeto português para o Brasil, sendo seu olhar sobre o Brasil senhorial, como se visto da janela da sala de visitas, do alpendre da casa grande.
As identidades do Brasil, José Carlos Reis, página 51 e seguintes.

Sérgio Buarque de Holanda - Raízes do Brasil
Considerado precursor da história das mentalidades.
Na década de 1920 há a crítica à sociedade oligárquica; na de 1930 há a distância entre estado e sociedade civil. Os intelectuais procuram decifrar o Brasil, produção do futuro. O IHGB perde influência para a universidade.
Raízes do Brasil é uma obra política em que afirma que o nosso mal não é a miscigenação, mas é a herança portuguesa.
Expõe sua crítica à produção do conhecimento no Brasil com  utilização de conceitos estrangeiros e universais moldando uma identidade fixa e homogênea. Critica a classe dirigente com o improviso, simplificação e reformas por decretos.
Pensa o papel do historiador na relação presente-passado, suas particularidades.
As identidades do Brasil, José Carlos Reis, página 115 e seguintes.

Boris Fausto - A Revolução de 1930 - Historiografia e História
Este livro foi construído a prtir do uso de elementos de memória - recortes de revistas, outros documentos - sem, contudo se centrar em quem os produziu ou em qual era sua posição ideológica - tratava-se apenas de retratá-los com subsídios relevantes para o trabalho. A proposta de Boris Fausto no livro era de discutir as explicações existentes à época acerca da Revolução de 1930.
Por um lado, tinha-se a corrente difundida por Virginio Santa Rosa, Nelson Werneck Sodré, Guerreiro Ramos e Hélio Jaguaribe, os quais defendiam que a Revolução de 1930 tinha sido um movimento de classes médias, sendo, portanto, decorrente de uma questão eminentemente econômica, liga á disputa entre setores médios e grandes fazendeiros.
Por outro lado, tinha-se a tese defendida por Wanderley Guilherme dos Santos e Ruy Mauro, para quem a Revolução de 1930 decorreria da cisão na burguesia nacional, que permitiu a ascensão da burguesia industrial ao aparelho do Estado.
Para Boris Fausto, a Revolução de 1930 seria o resultado do conflito intra-oligárquico fortalecido por movimentos militares dissidentes, que tinham, como objetivo golpear a hegemonia burguesa cafeeira. Ou seja, em virtude da incapacidade das damais frações de classe para assumir o poder de maneira exclusiva, e com o colapso da burguesia do café, abriu-se um vazio de poder, que teria gerado o Estado de Compromisso.
O Estado de Compromisso é, portanto, a chave analítica que permite ao autor compreender a revolução como um produto da questão política de regionalismo. Assim, como nenhum dos grupos que participaram do movimento oferecia legitimidade ao Estado, abriu-se um "vazio de poder", o que conduziu a um compromisso entre as várias frações de classe e "aqueles que controlam as funções do governo", sem vínculois de representação direta.
A Revolução de 1930. CPDOC da Fundação Getúlio Vargas.

Caio Prado Júnior - Formação do Brasil Contemporâneo

No livro, o autor fez uma síntese dos três primeiros séculos da colonização, até inícios do século XIX, momento caracterizado por ele como uma etapa decisiva na evolução do país, visto que se constitui num período de transição para uma nova fase. Através de uma abordagem inovadora, Caio Prado descartou a tendência predominante na época de enquadrar o sistema colonial em um modelo de economia feudal, afirmando que o processo colonial não passou de uma das manifestações de um fenômeno de maior amplitude - a expansão comercial iniciada no século XIV-, ou seja, criando uma visão do colonialismo como parte integrante do capitalismo mundial. Caio Prado não desenvolveu pesquisas em arquivo, utilizando-se de fontes secundárias e também de fontes primárias já impressas: seu objetivo era o de elaborar uma síntese geral do período colonial; o que, pela simples extensão da periodização escolhida (três séculos), impossibilitá-lo-ia de trabalhar exaustivamente em arquivos. O principal método de pesquisa utilizado pelo autor foi o de releitura, análise e critica de fontes conhecidas.

Para Caio Prado, o sistema colonial não foi um fenômeno que ocorreu isolada e casualmente na história, mas parte do processo de desenvolvimento do comércio europeu e da expansão marítima dos séculos XV e XVI. Segundo ele, os objetivos maiores e o "espírito" predominante dos colonizadores se enquadravam numa perspectiva comercial, e não, por exemplo, no desejo de expandir o cristianismo. As colônias da América Latina funcionavam como meros enclaves, cuja produção se destinava ao abastecimento das necessidades metropolitanas, ou seja, como mercados exportadores de matérias- primas. Esse era o "sentido da colonização" do Brasil e todas as demais "colônias de exploração", diferentemente do que ocorreu nas "colônias de povoamento" do futuro Estados Unidos. Paralelamente, instalou-se a escravidão como base da sociedade colonial. Tudo estava integrado, direta ou indiretamente, ao núcleo escravista. Dentro dessa 1ógica, Prado dividiu a população colonial em dois setores: o dos elementos orgânicos, constituídos pela massa escrava e por todos aqueles que faziam parte do sistema escravista; o dos elementos inorgânicos, incluindo as categorias sociais que se mantinham marginais a estrutura colonial básica, apesar de se verem por ela afetadas. Este segundo grupo seria composto, sobretudo, pelos agricultores de subsistência, trabalhadores da pequena indústria doméstica, vadios, enfim os livres desclassificados da colônia. A partir desses dois elementos - o "sentido da colonização" e a estrutura escravocrata - Caio Prado desenvolveu toda a sua argumentação.

Texto disponível Universidade Federal da Bahia.

Florestan Fernandes - A Revolução Burguesa no Brasil
Entre os quase dez anos que separam a idéia inicial de uma obra sobre a revolução burguesa de sua conclusão, posto que a concepção remete a momentos subseqüentes ao golpe militar e a redação final é elaborada apenas em 1973, observa-se que o tema da modernidade, da sociedade de classes e do desenvolvimento do capitalismo no Brasil e na América Latina mobilizou grande parte da obra de Florestan Fernandes. Entretanto, um fator distingue A Revolução Burguesa no Brasil no conjunto dessa produção, e a torna central no pensamento do autor: a urdidura cerrada de elementos que até então se colocavam como cisuras esparsas no ideário acerca da modernidade na periferia, na base de seu projeto científico como scholar, tal como a consagrada caracterização de Maria Arminda do Nascimento Arruda. Urdidura possível por colocar tratar das questões numa perspectiva histórica, cujo sentido é construído pelo eixo da revolução burguesa: longo processo que vai do início do século XIX aos desdobramentos do golpe militar, caracterizado por três etapas do desenvolvimento capitalista – expansão do mercado capitalista, expansão do capitalismo competitivo e expansão do capitalismo monopolista. “Arremate”2 este passível de apreensão pela noção de “modelo autocrático-burguês de transformação capitalista”, que preside a transição e o desenvolvimento das três etapas.
Síntese teórica de uma saber militante.
.
Para saber mais
Para saber mais
Topo da página
Topo da página